quarta-feira, agosto 23, 2017

Males que não vêm para bem!


 No Brasil, não. Sobretudo. Questão de ordem. O distritão pode ser bom para o Afeganistão. Não para nós. Haverá algo no Afeganistão bom para nós? A lista fechada pode ser boa para a Espanha e Portugal. Não aqui. O parlamentarismo pode ser bom para o mundo inteiro. Menos para o Brasil atual. Distritão, lista fechada e parlamentarismo são assaltos à mão armada neste momento nebuloso. O distritão é simples: limitar a oferta de candidaturas para concentrar os votos nos que já estão eleitos. A lista fechada é o pior dos mundos possíveis: os caciques posicionam os candidatos numa lista, reservando-se um lugar privilegiado, e o eleitor carimba o pacote. Elege quem quer e também quem não quer. Um bom lugar na lista vai custar caro. Olhos atentos.
O parlamentarismo retira do cidadão o direito de eleger diretamente quem vai governar o país. O parlamento escolhe o primeiro-ministro. Se não gosta, derruba. Parlamentarismo conciliado com lista fechada é o crime perfeito: os caciques organizam a lista e o pacote apenas carimbado pelo eleitor, sem escolha nominal, elege o governante, o primeiro-ministro. O eleitor vira uma mera passagem. Funciona no mundo “civilizado”? Aqui não vai funcionar. Estimulará a corrupção. Depois do presidencialismo de cooptação, o parlamentarismo de cooptação. Para governar o primeiro-ministro precisará de maioria no parlamento. Como vai obtê-la se não a alcançar, como é frequente, nas urnas? Comprando o apoio de algum partido disposto a colaborar.
Cada sistema tem seus defeitos. O sistema proporcional praticado no Brasil permite votar num e eleger outro com menos votos próprios. Para resolver isso, basta acabar com as coligações nas proporcionais, truque que leva partidos sem votos para eleger sozinhos um representante a pegarem carona numa cesta de secos e molhados. Se o eleitor quer um presidente com poder para governar sem ter de comprar apoio no parlamento é só lhe dar uma maioria no legislativo. O perigo é “eleger” um ditador sem freio parlamentar. Nada é perfeito. A cada quatro anos se pode rever o contrato. Enquanto o mais malandro de cada lugar for eleito, a vaca continuará indo do brejo para Brasília.
O PSDB queria parlamentarismo antes de eleger FHC presidente da República. Aí resolveu apostar na emenda da reeleição por meios pouco republicanos. Agora, com seu principal candidato pulverizado, sem votos à vista, voltou a defender mais um golpe com ar de modernidade. O PSDB é a UDN de smartphone, laptop e tablet. O PT sonha com lista fechada. Dado que quase ninguém mais acredita em partidos políticos, defende o fortalecimento dos mesmos. Viva o paradoxo! O distritão é o primeiro inimigo a ser abatido. Atenção, mirem o alvo. Atirem no painel eletrônico. Quando algo pode ser bom para a maioria dos atuais eleitos, só pode ser ruim para a maioria dos eleitores. Não duvide.JM