sábado, setembro 30, 2017

Juremir Machado

O Brasil pode vir a ser uma grande Suécia? Dificilmente. Por causa do clima? Claro que não. Por causa da elite brasileira escravocrata. Ela não deixa. Não quer. Gosta de viver perigosamente. Prefere morar em fortalezas e circular em carro blindado a dividir o bolo de modo igualitário. A prioridade dos suecos é a justiça social. A das elites brasileiras é a política de segurança pública. Leia-se, repressão. Traído por sua burguesia, antiprogressista, o Brasil busca no atraso o seu futuro. O custo Brasil tem nome: conservadorismo.

domingo, setembro 24, 2017

Pautas conservadoras da gestão Temer


Moacyr Lopes Junior - 12.dez.2016/Folhapress
Sao Paulo, SP. Brasil. 12.12.2016. O presidente Michel Temer, ao lado de politicos e empresarios durante homenagem, no Palacio dos Bandeirantes, em Sao Paulo, em motivo do Prêmio Líder do Ano, no evento promovido pelo Lide, entidade do Grupo Doria. (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress)
Michel Temer ao lado de políticos e empresários em homenagem promovida pelo Lide, do Grupo Doria

Em 16 meses de gestão de Michel Temer, demandas do empresariado e de setores que defendem posições conservadoras tiveram avanço significativo no Executivo e no Congresso.Propostas encampadas por campos opostos, por outro lado, não registraram movimentação expressiva no governo ou no Legislativo, que nas últimas eleições assistiu a um crescimento das bancadas da bala (segurança pública), evangélica e ruralista.

sábado, setembro 23, 2017

Monstros íntimos


Sou como todo mundo um poço sem fundo no fundo do qual habitam monstros de todos os tipos. Há um monstro irascível que me acorda no meio da noite para pedir explicações sobre o passado e previsões para o futuro. Outro monstro solerte me espreita e se deleita com meus erros. São tantos os meus monstros que chego a temer pela minha integridade corporal. Há monstros terríveis e imaginários que se manifestam por sintomas físicos. Um monstro me acelera o coração. Outro monstro me faz roncar a barriga. Quando todos se reúnem, numa orquestra de sinais tão familiares quanto misteriosos, eu me sinto perdendo o chão sem ganhar as nuvens, afundando os pés no concreto das especulações.
Há quem se acostume com seus monstros como eu me habituei à mosca volante que mora no meu olho direito. Eu, em todo caso, convivo com meus monstros numa relação conflituosa. Acontece-me de odiá-los. Gosto quando se retiram e passam semanas sem fazer barulho. Chego a pensar que se foram para sempre. Então, inesperadamente, eles retornam com a costumeira familiaridade. Quem não tem os seus monstros? Um monstro solene me exige compostura e elegância. Outro, debochado, quer que eu seja mais espontâneo e relaxado. Um terceiro, memorioso, enumera as oportunidades que perdi na vida. Um quarto, industrioso, me soterra com montanhas de trabalho sob a promessa de realização total.
O homem é ele e seus monstros mais íntimos e perturbadores. Meus monstros não me poupam nem me preservam. Se me descuido, exibem minhas vísceras em praça pública. Se adormeço, me despem e se escondem. Os monstros mais terríveis que nos habitam são velhos conhecidos de todos: a inveja, o ressentimento, a cobiça, o despeito, a amargura, o desencanto, a ira. Há, porém, outros monstros, aparentemente mais particulares, que, na verdade, multiplicam-se por toda parte como vírus malditos. Não sabemos de onde surgem. Ignoramos suas causas. Instalam-se e rugem. O monstro da hipermodernidade é a depressão que se levanta como um animal voraz a cada urro.
Um dos mais antigos e incontroláveis monstros da humanidade é o desejo. Filósofos conceberam sistemas ou modos de vida para sufocar, amordaçar, controlar, levar o desejo pelo cabresto. Nenhum atingiu plenamente o seu objetivo. Há quem seja dominado pelo desejo de poder, de fama, de sexo, de dinheiro, de intensidade, de existência, de reconhecimento, de aplauso. Pensadores ditos céticos, epicuristas e estoicos tentaram atingir o estágio da chamada ataraxia: o domínio das paixões, a suspensão dos desejos, a eliminação das perturbações, a tranquilidade absoluta da alma, a paz. Eu busco isso. Mas meus monstros se rebelam, organizam-se em bandos e me tomam de assalto.
Travamos batalhas, épicos entre quatro paredes, guerras à flor da pele, combates entre a razão e a emoção. Procuro cercá-los. Eles me atacam em emboscadas fatais. São guerrilheiros temíveis. Uso armas de dissuasão. Eles reagem com mísseis fabricados clandestinamente. Cada ser humano tem os seus monstros, que os tornam mais humanos e ao mesmo profundamente misteriosos. De onde vem as nossas obsessões? Desse poço sem fundo que nos afunda em vertigens, delírios, fantasias e sonhos. JM.

sábado, setembro 16, 2017

Lei para todos?



      Jean Baudrillard, mestre de paradoxos, me ensinou num café de Paris, tomando um vinho branco às dez da manhã, que o principal trabalho de cronista intelectual é fazer comparações para explicitar contradições. No Brasil, a direita acha que isso, em certos casos, é pura manobra para defender Lula e o tão odiado PT. Outro dia, falei disso no Esfera Pública, na Rádio Guaíba, com o ministro do STF Marco Aurélio Mello. Ele concordou que há incoerências. Vejamos: absolvido em segunda instância o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto continuou preso. Condenado em segunda instância o tucano Eduardo Azeredo permanece solto. Como explicar essa discrepância tão visível?
Vaccari deverá ser condenado em segunda instância brevemente. Azeredo espera o julgamento dos seus embargos. Parece assim: petista absolvido aguarda confirmação de condenação na cadeia. Tucano condenado mantém a esperança de absolvição em liberdade. O entendimento atual, que deverá ser derrubado com voto de Gilmar Mendes por já não servir só para enjaular adversários, é de que se vai para a cadeia depois da segunda instância. Outro caso: Lula está condenado em primeira instância apesar de centenas de juristas afirmarem que não há provas. Aécio permanece senador apesar das gravações em que combina crimes e das malas de dinheiro confirmando a realização do combinado.
O STF afastou o peemedebista Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados e mandou prender o senador petista Delcídio Amaral sob alegação de flagrante duvidoso. Quando chegou coincidentemente em Aécio Neves o STF convenceu-se de ter errado antes e resolveu acertar entendendo ser prerrogativa exclusiva do parlamento afastar um dos seus. Que conclusão tira um amigo como eu de Baudrillard, o amante dos paradoxos e das irônicas contradições, que não rezava por qualquer cartilha? Esta: a Lava Jato pode pegar todo mundo, até caciques do PMDB, mas quando chega no PSDB a coisa muda de figura. Pode até ser que os rapazes de Curitiba e de Brasília não sejam seletivos, embora haja fotos de carinhos com tucanos, mas o sistema no topo da pirâmide tem sido. Ainda não se viu grão tucano em gaiola. Algum leitor acha que não havia razões para prender Aécio?
Se dependesse de alguns, Rodrigo Janot, que se tornará ex-procurador-geral da República nesta semana, seria condenado e preso antes de um tucano. Pelo quê? Por ter dados ouvidos a Joesley Batista, que denunciou Temer e Aécio com provas, o que desmoraliza outros delatores e foge do manual em uso. Eu tenho convicção de que Vaccari e Azeredo merecem morar juntos nalguma prisão brasileira. Começo a pensar que será mais fácil encarcerar Lula. Aécio não nasceu para a vida dura das prisões. Além disso, não representa perigo. Ninguém quer votar nele para presidente nem de clube de futebol mineiro. Mala por mala, se Geddel está na Papuda, Aécio está tão papudo como sempre. Já boa parte do ministério de Temer tem uma predileção pelas páginas policiais dos jornais. Nada que abale o chefe deles. Todos inocentes. A segunda denúncia por formação de organização criminosa é detalhe.
O cara que vê petismo num texto como esse esse revela o seu âmago.
O seu problema não é a corrupção, mas a ideologia.JM