sábado, dezembro 30, 2017

Eleições 2018

Candidatos à Presidência começam preparação para campanha eleitoral em 2018

Chega a virada e começa a preparação para o desfile eleitoral, que promete surpreender a todos, inclusive, em relação aos protagonistas da festa


    





O universo da política que se apresentará ao eleitor em 2018 espera o destino do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da mesma forma que o público do sambódromo aguarda ansioso a magia da entrada das escolas de samba. Por isso, em 24 de janeiro, data do julgamento do ex-presidente no TRF da 4ª Região, políticos ficarão a postos, assim como os foliões.


Lula ainda é o que o PT tem de força eleitoral, e a única vez em que o partido testou seu poder de transferência de votos foi com o governo federal na mão, servindo de alicerce para a candidatura de Dilma Rousseff. Em condições adversas, ou seja, com o partido na oposição, esse poder jamais foi testado.“Quando passar o julgamento, começará a ter contornos mais concretos. Já há a movimentação de partidos aliados em função disso. Agora, ele acaba sendo o grande centro das atenções, mas o jogo começou. Hoje, não se sabe quanto o Lula transfere de votos”, diz o cientista político Ricardo Caldas, que desde já avalia os movimentos.

Enquanto aguardam para saber como será o desfile do PT, que venceu as quatro últimas eleições presidenciais, os pré-candidatos começam os ensaios para testar a empatia com o eleitor, cada um no próprio galpão, ou melhor, partido. Hoje, o Correio traz a relação das agremiações mais tradicionais, que integram uma espécie de grupo especial da política, caso de Lula e de siglas como o PSDB, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

No galpão tucano, as brigas internas provocaram estragos em algumas alegorias e, por isso, alguns aliados que se preparavam para engrossar o desfile voltam os olhos para o som que sai dos tambores do ensaio da bateria do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele apresentou o samba-enredo ao eleitorado antes do Natal, num programa voltado à melhoria do cenário econômico. Porém, se as boas novas da economia forem além do esperado, a ponto de alavancar a popularidade do presidente Michel Temer, é o peemedebista quem desfilará no alto do carro alegórico governista.

Amanhã, o eleitor conhecerá aqueles que estão hoje no grupo de acesso, Jair Bolsonaro, Álvaro Dias, Rodrigo Maia e Manuela D’Ávila. Em seguida, virão aqueles que, sem uma grande estrutura, fazem questão de se apresentar no carnaval político, ainda que seja como um “bloco de rua”. Boa leitura!

Luiz Inácio Lula da Silva


» Agremiação: PT

» Conjunto: 1.585.958 de filiados, 9,492% do eleitorado brasileiro

» Alegorias: 5 governadores, 9 senadores, 57 deputados federais, 106 deputados estaduais, 256 prefeitos

» Evolução: presidente da República (2003-2011) e deputado federal (1897-1991)

» Enredo: discurso radical à esquerda com maior foco em programas sociais e na distribuição de renda.
Mestre-sala e porta-bandeira: Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann

» Comissão de frente: Jacques Wagner, José Guimarães, Carlos Zarattini
Aposta na tradição

O PT mobilizará toda a estrutura para o ensaio geral, em 24 de janeiro, quando Lula
será julgado no TRF-4, em Porto Alegre. Mesmo se o ex-presidente sair de lá
condenado, a ordem é mantê-lo como principal carro alegórico enquanto der, nem
que toda a escola tenha de empurrá-lo. A única hipótese de ele não ser candidato é se os jurados o tirarem da avenida. 

Porém, o enredo de um condenado não é considerado o melhor para se empolgar o eleitor, ainda que seja Lula. “Isso vai influenciar no voto do eleitor. A população brasileira é muito conservadora. Se ele for condenado, tudo muda. Ele deixa de ser
candidato livre para ser um candidato que pode ser preso a qualquer momento”, comenta o professor da Universidade de Brasília Ricardo Caldas. 

E, por mais que não admita, a insegurança faz o PT pensar em planos B. A segunda opção do partido já foi o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que hoje está se preparando, ainda que a contragosto, para a festa de São Paulo, como candidato ao Senado. No desfile mais esperado do ano, o presidencial, o PT baiano põe o ex-ministro, ex-deputado e ex-governador Jaques Wagner no lugar de destaque que seria ocupado por Lula.

Além do entrave judicial, o PT ainda terá de lidar com a rejeição do público. Apesar da tradição carnavalesca, a agremiação foi uma das protagonistas dos últimos escândalos de corrupção e de desvios de dinheiro público que chocaram o país e o mundo. Para isso, Lula — ou o substituto — pretende usar o peso da história. O discurso é trazer à tona o legado que o ex-presidente deixou para a sucessora Dilma Rousseff, independentemente de a culpa dos tropeços sobrar para a companheira.

Marina Silva


» Agremiação: Rede

» Conjunto: 20.704 filiados, 0,124%
do eleitorado brasileiro

» Alegorias: 1 senador, 4 deputados federais,
5 deputados estaduais e 6 prefeitos

» Evolução: senadora (1995-2011); ministra do
Meio Ambiente (2003-2008), deputada estadual
(1991-1995) e vereadora (1989-1991)

» Enredo: retomar o crescimento econômico
com sustentabilidade

» Mestre-sala: Heloísa Helena

» Comissão de frente: Miro Teixeira,
Randolfe Rodrigues

Ritmo de afastamento


Marina Silva vem travestida de Mocidade Independente. Pelo andar da carruagem eleitoral, não promete reunir muitos aliados no primeiro turno nem manterá todos os deputados da Rede no partido, uma vez que alguns cogitam sair para garantir a própria reeleição. A tendência é de que seja uma festa mais modesta focado no desenvolvimento sustentável.

Para completar, os primeiros acordes que ela mostrou do samba-enredo descarta quase todo o espectro da política. “A gente tem que dar para o PT, para o PMDB, para o PSDB, para o DEM e seus aliados um sabático de quatro anos para que eles possam rever seus estatutos, olhar na cara das pessoas, e se reinventar, para, só depois, se colocarem de novo na disputa”, afirmou Marina, quando do lançamento da pré-candidatura.

Mesmo assim, o potencial da candidatura da acriana não pode ser descartado. A ex-senadora tem um eleitorado fiel e pode ser o peso que fará diferença em um possível segundo turno. Nas últimas eleições, a candidata ficou em terceiro na disputa, com 21,32% dos votos válidos. E, apesar do distanciamento do ex-presidente Lula, analistas acreditam que ela tenham potencial para conquistar os votos do petista, caso ele não seja candidato.

Ciro Gomes


» Agremiação: PDT

» Conjunto: 1.255.726 de filiados, 7,515% do eleitorado brasileiro

» Alegorias: 2 governadores, 2 senadores, 20 deputados federais, 75 deputados estaduais e 6 prefeitos

» Evolução: deputado federal (2007-2011); ministro da Integração Nacional (2003 a 2006); ministro da Fazenda (1994-1995); governador do Ceará (1991-1994); prefeito de Fortaleza (1989-1990) e deputado estadual (1983-1988)

» Enredo: um dos principais temas é a revogação das reformas feitas pelo atual governo, principalmente, a que mudou as leis trabalhistas

» Mestre-sala: Carlos Lupi e Cid Gomes

» Comissão de frente: Pedro Taques e André Figueiredo

enfrentamento

Ciro Gomes andou por praticamente todas as escolas de samba do espectro político. Já foi do PSDB, do PPS, do PSB, aliado e adversário do PT. Agora, desfilará num partido tradicionalmente aliado a Lula, porém, já falou tão mal dos petistas nos últimos tempos que se complicou como alternativa de votos para a turma ligada a Lula no 1º turno.

Ciro Gomes andou por praticamente todas as escolas de samba do espectro político. Já foi do PSDB, do PPS, do PSB, aliado e adversário do PT. Agora, desfilará num partido tradicionalmente aliado a Lula, porém, já falou tão mal dos petistas nos últimos tempos que se inviabilizou como alternativa de votos para os petistas no primeiro turno.

Com um samba que pretende bater nas reformas promovidas pelo atual governo, principalmente, a que alterou a legislação trabalhista, o ex-ministro da Fazenda sugere um projeto nacional de desenvolvimento em que o foco do investimento esteja menos nos bancos e empresários e mais no trabalhador. 

Geraldo Alckmin


» Agremiação: PSDB

» Conjunto: 1.456.534 de filiados, 8,717% do eleitorado brasileiro

» Alegorias: 6 governadores, 11 senadores, 46 deputados federais, 96 deputados estaduais e 803 prefeitos

» Evolução: governador de São Paulo (2001-2006 e 2010 à atualidade); secretário estadual de desenvolvimento (2009); Vice-governador de São Paulo (1995-2001); deputado federal (1987-1994); deputado estadual (1982); prefeito de Pindamonhangaba (1977) e vereador (1972)

» Enredo: união com os partidos de centro para um discurso de desenvolvimento social, com privatizações e reformas

» Mestre-sala: Wanderlei Macris e Júlio Semeghini

» Comissão de frente: Ricardo Tripoli, Carlos Sampaio, Sílvio Torres
O samba da renovação

Os tucanos chegam empunhados do azul da Portela, grande em carnavais passados, porém com o desafio de se renovar. Depois das brigas internas provocadas pela disputa de poder entre os aliados de Aécio Neves e do senador Tasso Jereissati e ainda a posição rachada do partido quanto às denúncias envolvendo o presidente Michel Temer, os tucanos entregaram ao governador paulista a tarefa de consertar os estragos nas alegorias e componentes.

Se conseguir, tem chances de apresentar uma escola harmônica, “sem buracos” ou samba atravessado. Antes de começar a ensaiar o enredo definitivo para 2018, terá de organizar o galpão, uma vez que o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, quer prévia para a escolha daquele que terá lugar de destaque na escola de samba tucana. Com a disputa, Alckmin corre o risco de entrar na avenida com um “buraco” na região Norte, onde não é conhecido, nem tem votos. 

Enquanto prepara os tucanos para o desfile no sambódromo da sucessão, o governador tem de dar atenção à quadra paulista. Há quem diga que, se Serra insistir em concorrer ao título paulista, Alckmin terá de apoiá-lo sob pena de perder aliados. Para completar, ainda tem o governador de Goiás, Marconi Perillo, na reserva, esperando para ver se o carro de Alckmin quebra e se ele assume o lugar.

Henrique Meirelles


» Agremiação: PSD

» Conjunto: 323.602 de filiados, 1,937% do eleitorado

» Alegorias: 2 governadores, 4 senadores, 38 deputados federais, 80 deputados estaduais e 539 prefeitos

» Evolução: ministro da Fazenda (de 2016 à atualidade). Economista, presidente mundial do BankBoston, deputado federal eleito em 2002, renunciou para assumir a presidência do BC, em 2003

» Enredo: a nota principal é a reforma da Previdência. A intenção é mostrar que só a melhora da economia traz segurança de crescimento, justiça social e distribuição de renda

» Mestre-sala: Gilberto Kassab e o mercado financeiro

» Comissão de frente: Marcos Montes, Robinson Faria, Raimundo Colombo
O legado no tamborim

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, surge como a Grande Rio: o partido jamais levou um título. Porém, não perde a esperança de levar o estandarte de ouro eleitoral. Nas vésperas do Natal, ele surgiu na tevê repaginado. O programa sombrio do PSD do ano passado foi substituído por uma imagem clara do ministro numa camisa azul impecavelmente engomada. A mensagem trouxe uma pequena biografia do ministro e o levou ao posto daquele que tirou o país do atoleiro. Com todo cuidado textual, a expressão reforma da Previdência foi substituída por “nova Previdência para garantir as aposentadorias”.

Meirelles foi incisivo ao dizer que a recuperação da economia, do emprego e da renda é o melhor programa social que um governo pode ter. Citou que a melhoria do emprego não é sentida pelo grosso da população porque os índices são elevados, mas carrega o que o eleitor deseja: esperança em dias melhores.

O sonho de carnaval é repetir Fernando Henrique Cardoso, que, em 1994, aprovou o Plano Real, garantindo, assim, a passagem de primeiro turno para a presidência. Assim como Meirelles hoje, FHC também foi um ministro da Fazenda depois de um impeachment, o de Fernando Collor. FHC, entretanto, foi o quarto ministro da Fazenda de Itamar Franco e Meirelles foi logo convidado por Temer.
Entretanto, na apresentação que Meirelles fez na tevê, faltou citar o presidente. Hoje, se a economia melhorar além do ponto previsto, o PMDB pressionará Temer a sair candidato. 


Michel Temer


» Agremiação: PMDB

» Conjunto: 2.396.880 filiados, 14,345% do
eleitorado brasileiro

» Alegorias: 7 governadores, 20 senadores, 60 deputados federais, 142 deputados estaduais e 1.028 prefeitos

» Evolução: presidente da República (2016 à atualidade); Vice-presidente (2011-2016);  Deputado federal ( Secretário de Segurança Pública de São Paulo (1985), deputado federal (1987-1991 e 1994 a 2010, sendo três vezes presidente da Câmara)

» Enredo: a reforma da Previdência e a melhora da economia para bancar programas sociais

» Mestre-sala: Eliseu Padilha
e Moreira Franco

» Comissão de Frente: Beto Mansur, Carlos Marun, Baleia Rossi, Romero Jucá

Na parada da bateria

O presidente representa no carnaval eleitoral algo como a Império Serrano, considerado o “primeiro império do samba”. Antigo e tradicional, o PMDB tem força e tamanho para alavancar aliados por todo o país, mas há muitos anos não leva um título. Se o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, almeja repetir FHC, o presidente Temer, lá no fundo, acalenta o sonho de ser um Itamar Franco — um presidente que chegou ao cargo depois do impeachment de Fernando Collor de Mello e foi capaz de recuperar a economia. Só que, nos tempos de Itamar, não havia a possibilidade de reeleição.

Em maio deste ano, quando o governo estava próximo de aprovar a reforma previdenciária, um amigo disse a Temer: “Você pode se preparar, porque, se a economia melhorar, você tem de ser candidato”. As denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot arquivaram o projeto. Agora, com o PIB de 3% previsto para o ano eleitoral, a reeleição voltou a sondar o enredo peemedebista. O próprio Temer não descarta. Em entrevista ao Correio, foi direto: “Eu não postulo, me posiciono”, afirmou, quando perguntado se descartava uma candidatura.

Aqueles que cercam o presidente garantem que, se ele não for candidato — a família não quer que ele seja —, a tendência é de que a agremiação apoie alguém mais ligado ao governo

sexta-feira, dezembro 29, 2017

TVCIDADE


Depois do Carnaval, veja na Gazeta, canal 25 para Porto Velho e Candeias do Jamaril: tvcidade. Quem viver, verá. Primeira temporada. Saiba mais aqui no blog do carlos coqueiro!

2018

Que todos os sonhos se realizem, especialmente o mais simples, mais antigo e mais compartilhado: o de um país melhor com eleições respeitadas, sem terceiro turno e sem nada a temer!

Zorra total!

E se acabou! Quase. O ano de 2017 termina como começou: uma esculhambação. O fecho veio com a declaração de Roberto Carvalho Veloso, presidente da Associação dos Juízes Federais, sobre a moralidade de receber o indecoroso auxílio-moradia de mais de R$ 4 mil, privilégio que mortal não tem: "e eu com isso?"

quinta-feira, dezembro 28, 2017

As 10 piores de 2017



10 – As duplas do sertanejo universitário
9 – Salários parcelados para funcionários públicos
8 – A manutenção do mandato de Aécio Neves
7 – O trabalho obsceno da tropa de choque de Temer
6 – O auxílio-moradia da magistratura
5 – A atuação de Gilmar Mendes no STF
4 – A reforma trabalhista
3 – O Grêmio tricampeão da América (do ponto de vista de um colorado)
2 – O time do Internacional na série B
1 – O governo Michel Temer (JM).

quarta-feira, dezembro 27, 2017

Mentiras do ano


 Todo ano duas categorias mentem para nós com esmero e muita confiança: políticos e especialistas. São pessoas que não hesitam, não duvidam e não coram. Governistas mentem sobre o futuro. A oposição mente sobre o passado. Juntos, políticos e especialistas mentem sobre o presente. Nós, na falta de alternativa, fingimos que acreditamos. É incrível a nossa capacidade de dissimulação. Ouvimos as mentiras de sempre e fazemos de conta que são novidades.

terça-feira, dezembro 26, 2017

Patrocinado


Origem, livro de Dan Brown, autor de O Código da Vinci
(69) 3223-0415/98100-2918. Não importa quem você seja, nem no que acredite.Tudo está prestes a mudar!

segunda-feira, dezembro 25, 2017

Novidades requentadas ou fraudes ?

Todo ano duas categorias mentem para nós com esmero e muita confiança: políticos e especialistas. São pessoas que não hesitam, não duvidam e não coram. Governistas mentem sobre o futuro. A oposição mente sobre o passado. Juntos, políticos e especialistas mentem sobre o presente. Nós, na falta de alternativa, fingimos que acreditamos. É incrível a nossa capacidade de dissimulação. Ouvimos as mentiras de sempre e fazemos de conta que são novidades.

domingo, dezembro 24, 2017

Leão e joia



Wole Soyinka é prêmio Nobel da literatura. O primeiro africano a ter chegado lá. Ele nasceu na Nigéria. Esteve no Brasil há pouco. Foi aplaudido. Mas pouca gente o leu. Só tem um livro dele publicado no Brasil: “O leão e a joia (Geração editorial). Vou fazer uma afirmação categórica: é o melhor presente de Natal que se pode dar a alguém que goste de cultura. Não fique por aí correndo feito barata tonta atrás de algo inédito. Fórmula do sucesso: S = d + dn. Sendo “s” sucesso, d (diferença) e d (descobrimento). Queremos o que faz diferença e produz descobrimento. Aquilo que pela fantasia tira o véu, descobre, revela, destapa, faz ver o escondido.

sábado, dezembro 23, 2017

Mentiras 2017!


 Todo ano duas categorias mentem para nós com esmero e muita confiança: políticos e especialistas. São pessoas que não hesitam, não duvidam e não coram. Governistas mentem sobre o futuro. A oposição mente sobre o passado. Juntos, políticos e especialistas mentem sobre o presente. Nós, na falta de alternativa, fingimos que acreditamos. É incrível a nossa capacidade de dissimulação. Ouvimos as mentiras de sempre e fazemos de conta que são novidades.
Às vezes, por perversidade, repassamos essas mentiras jurando que cremos nelas. Semeamos o terror em nome da modernidade, da tecnologia e do porvir.
Políticos mentem por estratégia ou falta de vergonha. Faz parte do ofício e do fetiche do tabuleiro de xadrez. Especialistas mentem por arrogância ou ignorância. Acreditam nas teorias que inventam para resolver todos os problemas do mundo. Para cada tese de um especialista existe, em geral, uma antítese sustentada por outro especialista. Nenhuma síntese é provável. Especialistas odeiam ser contestados por leigos. Estendem arame farpado em torno dos campos públicos. Expulsam os seres comuns e passam a ditar as regras.
Em 2017, ouvimos mentiras como sempre e absurdos como nunca. O governo de Michel Temer passou o ano mentindo sobre a reforma da Previdência. Mentiu sobre tudo o que diz respeito ao assunto, do calendário ao número de votos que poderia conseguir passando pelo conteúdo da reforma. Teve um especialista que se superou quanto à reforma trabalhista. Durante meses, em telejornal de grande audiência, sustentou que a reforma deveria acontecer para gerar empregos.
No dia seguinte ao da aprovação da dita cuja apareceu na mesma televisão destacando que não se esperasse milagre na criação de postos de trabalho. Mentira e gravata fazem parte da nobre função pública.
Há uma mentira que se repete todos os anos: não existem mais ideologias. É a fakenews mais difundida pela direita. Essa mentira tem outra formulação: não existem mais esquerda e direita. Como diz a piada, a esquerda combate o capitalismo, enquanto a direita combate a esquerda, que não existiria mais. Outra mentira recorrente é esta: a população está cansada de polarização. O sujeito diz e complementa:
– Só quem gosta de polarização são os radicais, fanáticos, atrasados.
Enquanto existirem ricos e pobres, gente que se dá bem e gente que se só dá mal, haverá polarização. Ou seja, pelo jeito, sempre. Ao menos, no Brasil. Duas grandes mentiras de 2017 foram: as reformas trabalhista e previdenciária serão feitas em nome do bem de todos. A grande mentira dos últimos tempos tem uma embalagem futurista: “A nova geração não tem mais tanto interesse em carreira, muito menos em trabalhar décadas para um só empregador”. Palavra de especialista. Quase todo jovem que conheço quer emprego interessante, bem pago, com perspectiva de futuro e garantias trabalhistas. Não conheço um só jovem estudante de jornalismo que não sonhe em fazer coisas como ser correspondente internacional pela vida toda de um grande veículo. Nas faculdades de direito eles sonham com a magistratura e com o STF.
Esse tipo de mentira faz crer que todo mundo quer ser alguma coisa como motorista de Uber. As pessoas querem poder trocar de emprego? Claro. Por emprego melhor. Querem ser empreendedoras? Claro. Se for evidente que poderão ganhar dinheiro com isso e viver bem. Existe essa evidência? Claro que não. Fico imaginando o jovem ou a jovem que se forma ou não se forma, casa-se e tem filhos: será que quer riscos e desregulamentação ou garantias para sustentar a família? E se ficar doente, como faz? Quantas pessoas ganham o suficiente para poupar e se garantir em caso de necessidade ou de aposentadoria?
Como será que essa fakenews é recebida pela nova geração sueca? Pelos alemães? Pelos franceses? Ah, franceses não contam, pois eles costumam ser refratários a essas fábulas liberais. São vistos como chatos e do contra por terem uma das maiores economias do mundo e ainda acreditar em Estado do Bem Estar Social. Tem filho de especialista nesse tipo de previsão que faz concurso para tribunais. Essa lorota finge ignorar uma realidade acachapante: a maioria das pessoas já passa por muitos empregadores e “carreiras”. Conheço quem tenha sido açougueiro, pedreiro, porteiro, entregador de pizza, vigilante, carregador de caminhão e funcionário de supermercado.
Tem quem resolva a questão com um suposto fair-play: mentir faz parte do jogo. Qual jogo? Quem dá as cartas? Quem é passado para trás? Quem quebra a banca? A mentira do ano não para de ser repetida: a economia está dando sinais de melhora. Para quem, cara pálida? Para quem? Tem aquela outra também: nosso objetivo é combater a corrupção. Quase ninguém se importa com a corrupção no Brasil. O que interessa é combater o inimigo ideológico. A corrupção pode ser um bom pretexto. Quem não se lembra do PMDB e dos tucanos combatendo a corrupção em 2016? A indignação passou, a febre baixou, a mentira colou. Já era.
Michel Temer contou a última perto do Natal: o povo gosto do seu governo, mas tem vergonha de dizer.
Passamos a acreditar em Papai Noel.JM

quarta-feira, dezembro 20, 2017

Elite burra!


O IBGE entregou o jogo: um em cada quatro brasileiros vive na miséria. Dá em torno de 50 milhões de pessoas. Dá quantos países europeus? Três quartos dos miseráveis brasileiros são negros ou pardos. Mais de 13 milhões vivem abaixo da linha da miséria. Chafurdam. Pode um país dar certo assim?Triste país!

segunda-feira, dezembro 18, 2017

Vorazes


É verdade. O grande problema do Brasil são as corporações. Elas querem tudo, nada cedem e comportam-se com voracidade. Agem em bloco.  Parasitam tudo. Só pensam nos próprios interesses. Condicionam governos, pressionam a mídia, paralisam setores inteiros quando seus privilégios são ameaçados. Afetam decisivamente as políticas públicas. Controlam “de forma estruturada e hierárquica uma cadeia.

quarta-feira, dezembro 13, 2017

Golpismos?


Parece que no Brasil tudo se repete como golpe: de azar, de sorte, de Estado, de vento, de colarinho branco, de farda. Nos anos 1950, sargentos, coronéis e generais publicavam manifestos e articulavam o que consideravam ser o melhor para o Brasil. Até sobre a inflação ou o aumento do salário mínimo opinavam. Na década de 1960, com novos ritmos, tudo continuava igual no quartel de Abrantes. Milicos interpretavam a Constituição e davam ou não posse aos presidentes da República. O Clube Militar servia-lhes de covil para conspirações. Em 1964, um general Mourão apressou a tragédia.
Em 2017, outro Mourão, não menos histriônico, sonha com intervenção fardada e quer ser presidente do tal Clube Militar. Vai para casa mais cedo.
Tudo se repete desde 2016 como uma marchinha de carnaval menos divertida e bastante mais marcial: o STF se dobra sempre que espremido, senhoras tomam ruas, os Estados Unidos se posicionam dissimuladamente, o mercado fareja o golpe bilionário, a mídia se vende por convicção, a moral e os bons costumam vigiam a cultura em nome do combate ao comunismo. Nada de nu, nada de sexo, nada de ideologia de gênero, nada de nada, pode ser a gota d’água, pai afasta de mim esse pessoal carregado de ódio e de nostalgia tinta de sangue. Em 50, combatia-se Vargas. Em 60, o herdeiro de Vargas. Em 2017, a Era Vargas sofreu o golpe fatal. Adeus CLT.
Entramos na uberização global.
O ministro da Defesa de hoje veio das hostes dos que queriam atacar ontem. O velho PCB virou novo PPS. O MDB virou PMDB. Esquerda virou direita. Centro virou direita. A direita virou extrema-direita. Esquerdistas foram à prisão por crime comum para conviver com direitistas menos previdentes do que os privilegiados tucanos. Só Mourão continua Mourão. Pau que nasce golpista morre golpista. Lá vem o Brasil descendo a ladeira. Lá vai o Brasil repetindo os seus erros. Uma nova noção de responsabilidade surgiu: manter no poder um presidente acusado de corrupção para evitar, depois de uma deposição com cara e cheiro de golpe, de armação, uma nova troca de governante num curto espaço de tempo, o que poderia ser desastroso para o país.
No Brasil tudo se repete como tragédia. Nós rimos como se fosse comédia. Estamos acostumados com o pior. O novo Mourão disse uma verdade trivial: Michel Temer se mantém no cargo graças ao seu balcão de negócios. Cada voto vale uma fortuna. O novo Mourão, na sua condição autoproclamada de juiz de fora do parlamento, sem toga nem gravata, mas com farda verde-oliva e olhar cinza, tirou a conclusão errada: que o Brasil precisa de menos democracia. Veio naquela toada: é bom já ir se preparando. Sem essa, general. Vá cuidar da família.
Em 1950, Getúlio não podia ser candidato. Se fosse, não podia ser eleito. Se fosse, não podia tomar posse. Se tomasse, não poderia governar. Deu no que deu. Em 2018, Lula não pode ser candidato. Se for… Se todos os golpes falharem, resta um, tão velho como os outros: o parlamentarismo. No lugar da UDN, o PSDB. Tudo igual. Uau!JM

domingo, novembro 26, 2017

Herdeiros


Para encerrar: era uma vez um país que não queria se enxergar apesar de todos os espelhos que lhe eram oferecidos. Esse país se chama obviamente Brasil. A última lente que lhe foi apresentada tem um nome sugestivo: “A distância que nos une, um retrato das desigualdades brasileiras”. É um produto da Oxfam, entidade internacional que escancara os fossos mundiais entre ricos e pobres. O Brasil é um dos países onde menos se paga imposto sobre heranças. Para não deixar dúvidas nem angústias: “Em São Paulo, a alíquota do imposto sobre herança é de 4%. No Reino Unido, ela alcança 40%”. Comunistas? Não.
Pragmáticos. Nós é que somos originais: “A posse de jatos, helicópteros, iates e lanchas não incorre no pagamento de nenhum tributo por seus proprietários, enquanto os veículos terrestres requerem pagamento do imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA)”. Deve fazer sentido, não? Mas qual? Mistério. O agronegócio também recebe seus presentinhos: “A despeito do País ter uma porção de terra cultivada de cerca de 300 milhões de hectares, 35% de todo o território nacional, o valor arrecadado com o Imposto Territorial Rural (ITR) representa menos de 0,06% do total arrecadado pelo Estado Brasileiro”. O calote ainda em torno de R$ 30 bilhões. Detalhe para reflexão matutina: “Apenas 9% dos estabelecimentos acessam 70% de todos os recursos públicos destinados à produção agropecuária”. O bolo não é para todos. Há estômagos bem maiores.
Outro capítulo comovente é da sonegação de impostos: R$ 275 bilhões em 2016. Ao que se soma a generosidade das renúncias fiscais: R$ 271 bilhões no ano passado. Total perdido: R$ 546 bilhões. Só tem um jeito de cobrir esse rombo: reformando a Previdência para tirar “privilégios” de quem ganha até R$ 5 mil e fazer trabalhar mais esses jovens nordestinos de 60 anos bem vividos. Quantos truques existem para se driblar a receita federal? Tem um chamado de “juros sobre capital próprio”, criado também na era FHC, em 1995. A empresa pega dinheiro emprestado com seus sócios e acionistas e paga-lhes juros antes da declaração anual ao fisco. Claro que desconta esse pagamento da base de cálculo dos impostos. É uma finta. Drible de bolso. E lá se vão mais uns R$ 60 bilhões por ano. Chegamos aos R$ 600 bilhões.
Resta encontrar outros gastos para chicotear. A culpa é do INSS, das políticas sociais exageradas, do assistencialismo e dos “privilégios” das aposentadorias fáceis, caras e precoces. Tudo isso é reflexo de história de exclusão e desigualdades reproduzidas secularmente. Fica o recado geral da Oxfam para este país que se compraz na opacidade, no parasitismo e no preconceito: “Não só há discriminação negativa contra negros e mulheres dentro das mesmas faixas educacionais, mas também com as mesmas profissionais. Negros e mulheres estão concentrados em carreiras com menor remuneração, e tendem a ganhar menos que os brancos e homens mesmo nessas carreiras. Um médico negro ganha, em média, 88% do que ganha um médico branco”.
Como disse Caetano Veloso, o problema do Brasil não é homem pelado em exposição de museu, mas a desigualdade social. Obscena.JM

terça-feira, novembro 14, 2017

O imaginário de Waack


O caso Waack

      William Waack é um jornalista famoso. Até semana passada ele apresentava solenemente o Jornal da Globo. Conservador, arrogante, grosseiro com os colegas, superficial, mesmo se é glorificado como detentor de grandes conhecimentos, não gozava de estima interna. Mas brilhava nos céus da mídia. Depois que vazou o vídeo em que condenava um comportamento como “coisa de preto” ele caiu do firmamento. Não lhe tem faltado, contudo, apoio de colegas tão ou mais conservadores do que ele. Todos o defendem relativizando sua fala: apenas um comentário infeliz, uma piada de mau gosto, quem já não errou que atire a primeira pedra, inveja, linchamento por redes sociais odiosas e sedentas de sangue, patrulhamento em tempos de politicamente correto.
A Rede Globo não pensou assim e afastou imediatamente o apresentador da sua função. Sejamos francos: ninguém faz esse tipo de comentário se não acredita no que está dizendo. Não foi o vídeo que vazou. Foi o imaginário de William Waack. Irritado, sentindo-se ao abrigo de qualquer olhar ou ouvido indiscreto, ele deixou o escapar o que carrega no coração, na mente e na ideologia. Um dos defensores de Waack já relativizou em outro momento a existência de racismo no Brasil. Por que só conservadores o defendem? Por julgarem que ele está sendo vítima de esquerdistas rancorosos. Waack é celebridade. Uma celebridade sempre encontra bons advogados gratuitos. Se fosse um jornalista de chão de fábrica, não seria socorrido com tanto ânimo.
Alguns daqueles que o defendem deixam escapar nas entrelinhas: podia ter sido eu. E certamente sussurram para si mesmos: preciso tomar cuidado. O caso William Waack é exemplar: revela os sentimentos da Casa Grande com o ruído do que consideram ser a Senzala. Os tempos, porém, estão mudando e já não se pode abafar o horror como um mero deslize. O Brasil está vazando por todos os lados. Tornou-se muito difícil realizar o desejo de Romero Jucá: estancar a sangria. A nossa sangria é ampla, vai da guerra à homofobia e ao racismo passando pelo combate ao bullying. O que sangra? O que deveria ser estancado? O preconceito ou o combate a ele? Na opinião de certos críticos do politicamente correto, o problema está na reação ao abuso e não na sua causa. Não cola mais. A sensibilidade social mudou. O Brasil se move.
O impávido William Waack aplicou-se um murro na cara. A sua postura no vídeo é a de dono do mundo. Repete três vezes a sua estupidez. Reage com palavrões ao menor incômodo. Não satisfeito, fornece sua explicação racista para o que o tira do sério. Resta aos seus amigos inconformados com a indignação nas redes sociais condenar os responsáveis pelo vazamento. Eles seriam frios, calculistas, maquiavélicos, vingativos, oportunistas e ressentidos. O ator Lázaro resumiu o rolo: “Racismo é crime e ponto final”. Quando o inconsciente fala, delatando seu porta-voz, é preciso tomar consciência do tempo no qual se vive. William Waack não é vítima da intolerância atual, mas o feitor que se perdeu no tempo e acordou vociferando como outrora. JM

segunda-feira, novembro 13, 2017

Menino soldado


Perto da barbárie

      Recebo muitos livros de autores e editoras. Ganho também presentes inesperados de amigos e estudantes. Deisy Cioccari me deu um livro surpreendente intitulado “Muito longe de casa, memórias de um menino-soldado”, de Ishmael Beah. É deslumbrante pela forma, aterrador pelo conteúdo e fascinante pelo imaginário. Um relato autobiográfico. A história de um adolescente devorado pela guerra civil em Serra Leoa, na África. O que sabemos no Brasil sobre esse episódio dramático? Quase nada. O quase é por cautela. Quem se importa entre nós com essa tragédia? Quase ninguém. Ou seja, ninguém.
O autor foi resgatado e vive em Nova York. Carrega na alma e no corpo a memória do inimaginável. Passou de criança perdida num dia de passeio, com a família devastada pela guerra, a soldado recrutado pelas forças de combate aos rebeldes. Aprendeu a matar como uma máquina e a consumir drogas em quantidades industriais para melhorar a performance no seu cotidiano de menino armado. O quadro que apresenta é de barbárie absoluta. Queimar aldeias e assassinar seus moradores era a técnica de base numa guerra sem quartel, sem regras e sem fim.
Era assim: “O fogo havia começado a acalmar, e eu estava correndo pela aldeia procurando alguma coisa, alguma coisa       que eu não queria ver. Hesitante, tentava distinguir os rostos de corpos queimados, mas era impossível saber quem tinham sido um dia. Além disso, havia inúmeras deles”. Sem dúvida, uma passagem suave. Podia ser assim: “O sol mostrava partes de canos de armas e balas voando em nossa direção. Corpos tinham começado a se empilhar, uns por cima dos outros, perto de uma palmeira baixa em que sangue pingava da folhagem. Procurei Josiah. Uma granada havia lançado seu pequeno corpo do chão, fazendo aterrissar num toco de árvore. Ele sacudiu as pernas e seu grito foi se calando aos poucos. Havia sangue por toda parte”. Assim.
Incrivelmente há também muita poesia no relato. A descrição das paisagens é soberba. A investigação sobre os desvãos da perversidade humana é um catálogo de iniquidades. O ressurgimento da esperança, quando tudo era violência, brilha como um raio de sol impossível. Não se sabe ao longo do texto o que, de fato, queriam uns e outros em meio à guerra arrasadora e permanente. Não há espaço para discussão de objetivos e ideias. Tudo se resume a matar e a tentar permanecer vivo.
Eram crianças que amavam rap e banhos de rio. Eram meninos que sonhavam em amar e temiam a descoberta do amor. Eram pré-adolescentes que tinham pressa de viver. Eram filhos cujos pais ganhavam a vida duramente, mas experimentavam a felicidade de fazer parte de uma cultura ancestral e de um cotidiano de comunidade. Foram jovens que aprenderam a matar antes do aprendizado da vida. “Muito longe de casa” é um “romance” de iniciação, a iniciação ao terror, uma educação sentimental, pedagogia do horror. Nos agradecimentos, tudo se resume: “Nunca imaginei que estaria vivo até este dia, muito menos que escreveria um livro”. É a história impressionante de um sobrevivente.(JM).

domingo, novembro 05, 2017

Ditadura dos algoritmos


De dois em dois anos o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Famecos/PUCRS realiza um grande evento. De 6 a 8 deste mês acontece o 15º Seminário Internacional da Comunicação.
É uma parceria com a Universidade de Montpellier, França.
Ou com a Universidade Paris Descartes.
Sempre traz convidados renomados, de Jean Baudrillard, Michel Maffesoli, Edgar Morin, Gilles Lipovetsky, Pierre Lévy, Régis Debray, Dominique Wolton a grandes nomes dos Estados Unidos, da Itália, da Espanha e da América Latina. Cabe todo mundo. Quem tem o que dizer, vem.
É o principal evento de programa da área de comunicação no Brasil.
Nesta edição, sobre intermídia transmídia, crossmidia, os convidados são Lars Elleström da Linnaeus (Suécia), Derrick de Kerckhove (Canadá), Claudia Attimnonelli (Itália), Philippe Joron, Fabio la Rocca e Vincenzo Susca (Universidade de Montpellier). Todos estão publicando livros no Brasil ou têm obras em português. JM

quinta-feira, novembro 02, 2017

Anos 60


Godard, o ícone

      Fiz minha educação universitária em vários níveis, graduação, pós-graduação e pós-doutorado, como estudante de jornalismo, história, antropologia e sociologia, cultuando vanguardas. Quando se falava em música, a gente louvava o experimentalismo de John Cage. Quando se falava em teoria, gritávamos “viva, Guy Debord”. Quando se comentava literatura, vibrávamos com certos escritores franceses. Quando pude, fiquei amigo de Alain Robbe-Grillet, que ajudei a trazer ao Festival de Gramado, considerado o “papa” do Novo Romance, de quem traduzi “Os últimos dias de Corinto”. Também traduzi “O bonde”, de prêmio Nobel Claude Simon. Quando o papo era cinema, Jean-Luc Godard era o nome. Mais do que um nome, uma lenda que tinha seu próprio fantasma.
Esse mesmo Godard que é tema do filme “O formidável”, dirigido por Michel Hazanavicius, um cineasta com gosto para desmontar mitos. A tradução do título, como é frequente no Brasil, enfeita um pouco: “le redoutable” literalmente é o temível. Em sentido figurado, o insuportável. Em bom português, no caso, o mala. Por que Godard, ícone de um cinema renovador – “Acossado” continua sendo um dos meus filmes favoritos –, aparece como mala num filme de hoje? Descontado o fato de que os apaixonados por cinema de entretenimento fácil nunca gostaram de Godard, o resto corre por conta da sua conversão, em 1967-1968, ao maoísmo ou “maloísmo”. Ele passa de cineasta a militante e perde o humor, a maleabilidade, o tom e a bela esposa vinte anos mais jovem.
O filme de Hazanavicius se baseia em livro de Anne Wiazemsky, atriz de “A chinesa”, neta do prêmio Nobel da literatura François Mauriac, a apaixonada que se desencantou com o “maloísmo” do marido. É possível que para muitos dos meus leitores Godard seja apenas um nome sem maior relevância afetiva. Para outros, somente um chato. Godard vive. Superou o maoísmo. Terá superado o “maloísmo”? Escrevo e isso e me contraio como quem tomou ou se deu um soco. Godard impregna a minha juventude libertária. Era o cineasta intelectual que havia rompido com o simplismo das intrigas banais e das historinhas com início, meio e fim. Isso tudo numa época em que eu me recusava até a ler romances policiais por não me pareceram alta literatura. O tempo passa, “todo cambia”, menos as lembranças de uma fase em que Godard era tudo.
Em nossa cartilha era Godard num plano e Glauber Rocha no outro. Eram os tropicalistas e os concretistas numa página e os formalistas na outra. Queríamos uma nova ética e uma nova estética, especialmente depois do terceiro pingado, um martelinho de cachaça com limão que tomávamos no bar do Mazza, na Bento Gonçalves, em frente à PUC. Confesso que me aconteceu algo como a conversão de Godard ao maoísmo. Eu fui do convencionalismo palomense ao experimentalismo parisiense numa noite. Quando mudei, mudei radicalmente. Virei fundamentalista. Amava principalmente os filmes e livros que ainda não tinha lido, embora lesse um livro por noite em busca do tempo perdido. Quando fui morar em Paris, vi todos os filmes da Nouvelle Vague numa minúscula televisão no “Cinema da Meia-Noite”. Era tarde para não amar. Amei.
Amo até hoje. A ilusão é que se foi.JM

sábado, outubro 28, 2017

Vitória do espirro!


Deu a escatológica.
Venceu a bandalheira.
 Michel Temer ganhou mais uma. O professor titular de Ética da Unicamp, Roberto Romano, cravou: “O resultado mostra que efetivamente estamos nos últimos momentos do Estado Democrático de Direito”. Exagero? O francês Guy Debord ensinava: “O espetáculo não canta os homens e suas armas, mas as mercadorias e suas paixões”. O dinheiro manda. A política brasileira não canta os ideais e seus épicos, mas a força da grana e das suas armas de convencimento. As declarações de deputados durante a votação foram novamente patéticas: voto com gosto de açaí, voto em tom da palhaçada, voto performático, voto de ocasião.
Tudo isso na semana em que os dados do Mapa da Desigualdade mostraram que os moradores dos jardins paulistanos – ricos e brancos – vivem em média 79 anos enquanto os habitantes do periférico Jardim Ângela, pobres e não brancos, contentam-se com 55. A diferença de renda entre bairros paulistas chega a oito vezes. O sociólogo Américo Sampaio traduziu assim tais disparidades: “Isso mostra que você tem na região central da cidade uma ilha de privilégios”. Contra isso parece só haver um antídoto: não confiar em sociólogos e professores de ética. São todos suspeitos de comunismo. As estatísticas conspiram contra Temer: “Em 2 anos, milhões ficam abaixo de pobre no Brasil e ganham menos de R$ 140”. Mesmo assim, muitos deputados votaram pela nova estabilidade econômica e pela “evidente” melhora da economia.
Abertos os cofres, Temer ganhou a parada. O resultado ficou aquém do esperado e anunciado pela tropa de choque do presidente, que enxerga o país com lentes especiais. Não foi uma vitória de Pirro, conforme a expressão histórica sempre repetida, mas uma vitória de espirro. Muitos foram contaminados pelo vírus das emendas parlamentares. Na sessão da Câmara dos Deputados, transmitida ao vivo para todo o país, foi delicioso ver e ouvir deputados do DEM, como José Carlos Aleluia, combativo militante anticorrupção da época do governo Dilma, revelar-se um discreto apoiador da interrupção da investigação contra Temer. Quem te viu, cidadão baiano, quem te vê!
Livre, embora combalido, Temer voltará às suas reformas. É tudo agora, pois 2018, ano eleitoral, não será propício para medidas antipopulares. Ele tentará mudar a Previdência. O preço é mais alto. Precisará de 308 votos para algumas alterações. O balcão de negócios será reaberto em tempo integral. Para o economista André Perfeito ficou “evidente que o capital político dele e do seu grupo se esvai e talvez não sobrem fichas suficientes para reformas significativas”. As armas de convencimento terão de ser azeitadas e reforçadas. Roberto Romano revela o perigo: “O cidadão está totalmente afastado e desconfiado dos operadores do Estado. O resultado desta quarta-feira é uma volta a mais na descrença popular no sistema representativo”.
Quem se importa com isso? Temer comemora.
Venceu mais uma batalha.
Não há mais Rodrigo Janot no seu encalço.
O caminho está livre. Se é corrupto talvez se fique sabendo depois do seu mandato.
Para que pressa?JM

domingo, outubro 22, 2017

Cabeça oca


“Nós somos os homens ocos/Os homens empalhados/Uns nos outros amparados/O elmo cheio de nada”. É isso que de fato somos? Volto a esse assunto do famoso poema de T.S. Eliot. A Terra é a nossa casa. O que estamos fazendo com ela? O Brasil é nosso lar.
O que estamos fazendo com ele?
Michel Temer é um personagem que me parece caber inteiro nessa definição, homem oco, empalhado, o elmo cheio de nada. Não digo isso por uma rejeição ideológica rasteira.
Acontece que ele encarna a caricatura do pior que nos acostumamos a conhecer: a mão que se movimenta freneticamente enquanto ele fala e que termina cada frase sentenciosa com o dedo indicador em riste estripando adversários, a linguagem bacharelesca, a mesóclise pedante, o botox repuxando a face.
Eis, talvez, o problema. Nossos políticos não lembram pessoas de verdade, autênticas, reais, defensáveis, complexas. Lembram bonecos em cena. Como representante mais acabado dessa caricatura, Temer teria de chegar ao topo da carreira. Tivemos políticos odiosos no passado. O escritor José de Alencar foi um deles. Escreveu, como mostrei em “Raízes do conservadorismo brasileiro”, esta análise abominável sobre a escravidão: “Os filantropos abolicionistas, elevados pela utopia, não sabem explicar este acontecimento. Vendo a escravidão por um prisma odioso, recusando-lhe uma ação benéfica no desenvolvimento humano, obstinam-se em atribuir exclusivamente às más paixões humanas, à cobiça e indolência o efeito de uma causa superior”.
Um crápula.
Eram os valores da época? Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Castro Alves e tantos outros conheceram a mesma época. Alencar perguntava retoricamente ao Imperador: “É a escravidão um princípio exausto, que produziu todos os seus bons efeitos e tornou-se, portanto, um abuso, um luxo de iniquidade e opressão?” Ele mesmo respondia para sua desonra: “Nego, senhor, e o nego com a consciência do homem justo, que venera a liberdade; com a caridade do cristão, que ama seu semelhante e sofre na pessoa dele. Afirmo que o bem de ambas, da que domina como da que serve, e desta principalmente, clama pela manutenção de um princípio que não representa somente a ordem social e o patrimônio da nação; mas sobretudo encerra a mais sã doutrina do evangelho”.
A retórica de Joaquim Nabuco era bem outra: “A escravidão não é um contrato de locação de serviços que imponha ao que se obrigou certo número de deveres definidos para com o locatário. É a posse, o domínio, o sequestro de um homem – corpo, inteligência, forças, movimentos, atividade – e só acaba com a morte. Como se há de definir juridicamente o que o senhor pode sobre o escravo, ou o que este não pode, contra o senhor? Em regra o senhor pode tudo. Se quiser ter o escravo fechado perpetuamente dentro de casa, pode fazê-lo; se quiser privá-lo de formar família, pode fazê-lo; se, tendo ele mulher e filhos, quiser que eles não se vejam e não se falem, se quiser mandar que o filho açoite a mãe, apropriar-se da filha para fins imorais, pode fazê-lo. Imaginem-se todas as mais extraordinárias perseguições que um homem pode exercer contra outro, sem o matar, sem separá-lo por venda de sua mulher e filhos menores de quinze anos – e ter-se-á o que legalmente é a escravidão entre nós. A Casa de Correção é, ao lado desse outro estado, um paraíso”. A morte também parecia mais leve.
Eram ousados os abolicionistas. Antônio Bento, o carola que organizou fugas em massa de escravos e fundou o mais radical dos jornais engajados na luta pela abolição, não perdoava desvios de conduta. “A Redempção” era um chicote: “Empregado público, dependente por sua natureza, do governo, jamais devia ser redator de jornais e, senão, leiam as Notas Diárias do Diário Mercantil e verão que aquela seção é sempre um turibulo fumegante a todos os presidentes, chefes de polícia et religua. Para que meter-se a escrever em jornais quem não tem a independência precisa? Quando o homem tem habilitação para escrever, mas não pode fazê-lo com independência e arrisca a pena, vai fazer versos porque isso a ninguém ofende. O autor das Notas diárias se tivesse um olho de menos poderia ser um grande Camões, mas como tem os dois perfeitos, seja um João de Deus”. Havia tutano nos seus elmos.
Como estamos agora? Homens ocos, empalhados, elmos vazios? O passado tem muito a nos ensinar. Em 13 de maio de 1898, dez anos depois da abolição, um escriba cravou: “Se sob o Império definhava o regime da escravidão, na República tem a nossa pátria agonizado nos braços de maus governos. Em cada Estado existe um cacique que governa à sua vontade e perpetua-se no poder por si e por gentes da sua tribo e força é suportar, não há para onde apelar. E o povo humilde e paciente tudo suporta, até a miséria, com evangélica resignação”. Ainda não nos livramos dos caciques de cabeça oca. Até quando? Precisamos nos apressar para salvar a casa da venda dos móveis. Vende-se o fogão para pagar o almoço. A janta era só um luxo do passado.JM

sábado, outubro 21, 2017

Nada será como antes!



      Fiquei sabendo das novidades: não haverá mais emprego com carteira assinada. Nem emprego. Só empreendedorismo. O trabalho e o ensino presencial vão acabar. Tudo será feito a distância. O sistema de aposentadorias públicas será extinto. Cada um poupará para quando ficar velho e quiser ou tiver de parar. O casamento com papel assinado só sobreviverá como ritual. Viagens de trabalho perderão o sentido. Tudo será virtual. As viagens turísticas não serão afetadas por uma questão de rentabilidade e de culto ao deslocamento sem fins utilitários. Carros não terão motoristas. O prazer de dirigir será substituído integralmente pelo de falar ao celular durante o trajeto. Na falta de com quem interagir, robôs cumprirão também essa tarefa.
As notícias factuais serão escritas por robôs jornalistas, que não entrarão em sindicatos nem terão data-base salarial. O smartphone sugerirá a cada segundo o que fazermos. Nada será deixado ao acaso. Todas as nossas reações são monitoradas permitindo que nos sejam indicadas soluções para problemas que ainda nem detectamos ou vimos.
– Prepare o seu Rivotril.
– Por quê?
– Sua ansiedade está vindo.
– Algo mais?
– Sim. Você terá um resfriado dentro de 72 horas.
Ficaremos enfim livres de tudo o que nos assoberba. Mas não haverá drama quanto ao que fazer do tempo livre. Tudo está previsto. Séries preencherão cada minuto de nossas existências liberadas das corveias do trabalho e da utilidade. Chegaremos aos 120 anos nas próximas décadas em condições de consumir. Nosso cartão de crédito será administrado por um algoritmo. Teremos mais tempo para ser preenchido por nossas máquinas domésticas atenciosas e precisas. Nada do que estou dizendo é novidade ou ficção científica. Resolvi apenas sintetizar as coisas. Não precisaremos mais digitar. Caminhar será opcional ou por recomendação médica. Cada gesto nosso será controlado e passível de punição mesmo se praticado no banheiro de nossa casa.
Avançaremos em organização. Viveremos, como no jargão do futebol, uma existência apoiada. Aplicativos infalíveis nos indicarão como decorar a sala, arrumar a cama, escrever um romance capaz de ser premiado, escolher o prato do jantar com amigos, mandar flores para a amada ou amado, fazer uma poesia para estimular o cérebro, pintar um quadro para ter uma experiência espiritual e decidir em quem votar. Humanos serão dispensados da tarefa de ensinar. No pós-construtivismo tecnológico integral, cada um aprenderá com ajuda de dispositivos inteligentes na hora que quiser, puder, precisar ou sentir prazer. As relações sexuais também serão assistidas por computador para melhorar o desempenho, auxiliar em caso de fracasso ou indicar novas posições.
Estou com medo de tanta liberdade, tanta autonomia, tanta independência. Ainda deverei viver minha transição para o novo modelo existencial. Parece que já existe um aplicativo de orientação. O entubamento começa mais cedo. Nunca mais estaremos sozinhos. Cada um agora tem a companhia permanente de uma máquina para chamar de sua.JM