Deu a escatológica.
Venceu a bandalheira.
Michel Temer ganhou mais uma. O professor titular de Ética da Unicamp, Roberto Romano, cravou: “O resultado mostra que efetivamente estamos nos últimos momentos do Estado Democrático de Direito”. Exagero? O francês Guy Debord ensinava: “O espetáculo não canta os homens e suas armas, mas as mercadorias e suas paixões”. O dinheiro manda. A política brasileira não canta os ideais e seus épicos, mas a força da grana e das suas armas de convencimento. As declarações de deputados durante a votação foram novamente patéticas: voto com gosto de açaí, voto em tom da palhaçada, voto performático, voto de ocasião.
Tudo isso na semana em que os dados do Mapa da Desigualdade mostraram que os moradores dos jardins paulistanos – ricos e brancos – vivem em média 79 anos enquanto os habitantes do periférico Jardim Ângela, pobres e não brancos, contentam-se com 55. A diferença de renda entre bairros paulistas chega a oito vezes. O sociólogo Américo Sampaio traduziu assim tais disparidades: “Isso mostra que você tem na região central da cidade uma ilha de privilégios”. Contra isso parece só haver um antídoto: não confiar em sociólogos e professores de ética. São todos suspeitos de comunismo. As estatísticas conspiram contra Temer: “Em 2 anos, milhões ficam abaixo de pobre no Brasil e ganham menos de R$ 140”. Mesmo assim, muitos deputados votaram pela nova estabilidade econômica e pela “evidente” melhora da economia.
Abertos os cofres, Temer ganhou a parada. O resultado ficou aquém do esperado e anunciado pela tropa de choque do presidente, que enxerga o país com lentes especiais. Não foi uma vitória de Pirro, conforme a expressão histórica sempre repetida, mas uma vitória de espirro. Muitos foram contaminados pelo vírus das emendas parlamentares. Na sessão da Câmara dos Deputados, transmitida ao vivo para todo o país, foi delicioso ver e ouvir deputados do DEM, como José Carlos Aleluia, combativo militante anticorrupção da época do governo Dilma, revelar-se um discreto apoiador da interrupção da investigação contra Temer. Quem te viu, cidadão baiano, quem te vê!
Livre, embora combalido, Temer voltará às suas reformas. É tudo agora, pois 2018, ano eleitoral, não será propício para medidas antipopulares. Ele tentará mudar a Previdência. O preço é mais alto. Precisará de 308 votos para algumas alterações. O balcão de negócios será reaberto em tempo integral. Para o economista André Perfeito ficou “evidente que o capital político dele e do seu grupo se esvai e talvez não sobrem fichas suficientes para reformas significativas”. As armas de convencimento terão de ser azeitadas e reforçadas. Roberto Romano revela o perigo: “O cidadão está totalmente afastado e desconfiado dos operadores do Estado. O resultado desta quarta-feira é uma volta a mais na descrença popular no sistema representativo”.
Quem se importa com isso? Temer comemora.
Venceu mais uma batalha.
Não há mais Rodrigo Janot no seu encalço.
O caminho está livre. Se é corrupto talvez se fique sabendo depois do seu mandato.
Para que pressa?JM
Nenhum comentário:
Postar um comentário