quinta-feira, fevereiro 22, 2018

VOO DA GALINHA!


Com esquerda perdida, Temer prepara 'voo da galinha'

Enquanto Lula sufoca oposição, presidente apronta 'bondades' para eleição

Temer com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão
Temer com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão - Ricardo Moraes-20.fev.18/Reuters
Com a intervenção no Rio e o abandono da Previdência, Michel Temer se lança informalmente à Presidência trocando uma reforma impopular pela agenda populista de Jair Bolsonaro.
Temer nada tem a perder e já mostrou falta de retidão e capacidade de mobilização política ao barrar as duas denúncias da PGR no ano passado, que custaram o fim, no Congresso, do apoio à Previdência.
 
A “ponte para o futuro” das reformas inadiáveis sai e o foco agora é o futuro de Temer e sua perspectiva de ser processado fora do cargo em 2019.
 
Temer tem só 6% de aprovação. Mas pode ser empurrado por um bom impulso da economia e por seu MDB ainda controlar 20% das prefeituras, onde o apoio miúdo dos prefeitos é importante.
 
O presidente conta ainda com a extraordinária falta de rumo da esquerda, incapaz de se organizar em torno da popularidade minúscula de Temer e sufocada pela candidatura sem futuro de Lula.
Nesta semana, PT, PDT, PC do B, PSB e Psol lançaram no Congresso o documento “Unidade para Reconstruir o Brasil”. Anunciado como projeto da esquerda para a eleição, o diagnóstico (no século 21) é que há uma “tentativa das grandes potências capitalistas de subordinarem nosso país aos ditames de uma ordem neocolonial”.
 
A solução? “A retomada do crescimento econômico associado à redução das desigualdades, geração de empregos e distribuição de renda”.
 
Como não pensamos nisso antes?
 
Quando a eleição chegar, é provável que o PIB esteja “rodando” perto de 4%, com a inflação no piso da meta. Sem reajuste desde 2016, o Bolsa Família (que chega a ¼ dos brasileiros) terá aumento real e o desemprego deve seguir caindo.
 
Temer também está autorizado pelo Congresso a encerrar 2018 com um deficit de até R$ 159 bilhões, acima do realizado em 2017, o que abre espaço para “bondades”.
 
O tal “feel good factor” na população, portanto, tende a favorecer Temer, apesar dos seus 6%.
 
No longo prazo, porém, nada disso é sustentável. Sem as reformas que o presidente agora abandona, o Brasil está novamente na pista para mais um clássico “voo da galinha”: o país decola depois da forte recessão e se estrepa de novo à frente. 

Com ou sem Temer.
Fernando Canzian

terça-feira, fevereiro 06, 2018

Dilma 2018

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Devemos admitir a hipótese de que talvez a direita não tenha dado um golpe de Estado em 2016 para permitir que Lula retornasse à presidência da República em 2018, com poderes para revogar o descalabro social, político e econômico em favor do capital internacional.

Ainda assim, a insistência pela candidatura de Lula é um ato de óbvia defesa. Ele é um político popular, carismático, eloquente, consegue mobilizar as massas e é um líder histórico da classe trabalhadora.

Mas a rigor, Lula não é o candidato ideal. O candidato ideal para 2018 é a presidente que criminosamente sofreu um golpe de Estado, a senhora Dilma Rousseff.

E ela é ideal por diversos motivos. Vejamos:

Sob o ponto de vista político, ela é uma personagem de honestidade ilibada. Nunca se sentou nas mesas de negociação com nenhum delator e nunca passou na cabeça de qualquer juiz processá-la por qualquer razão ou ilação.

Trata-se de uma mulher que suportou com dignidade as investidas de um congresso comandado por um bandido - Eduardo Cunha - e um vice-presidente traidor.  Nunca cedeu às pressões do mercado e atravessou com a cabeça erguida as hordas de paneleiros que a difamaram pelas ruas, como um verdadeiro exército “midiotizados” pela rede Globo e companhia.

Ela sofreu um impeachment pelo mesmo congresso e senado que absolveu um corrupto confesso, Aécio Neves, e um canalha golpista, Michel Temer. Hoje mora em um simples apartamento em Porto Alegre que nem porteiro tem... Em uma palavra, trata-se de uma mulher incorruptível e por essa exata razão foi deposta por uma corja de corruptos.

Sob o ponto de vista econômico, ainda que seja a sucessora de Lula, foi a presidente que mais promoveu crescimento econômico, a que mais fortaleceu os bancos públicos e a que mais reduziu as desigualdades sociais.

Em 2015 ela sofreu um gigantesco ataque interno e externo para deixar o país ingovernável. Sofreu um ataque cambial vindo dos EUA que depreciou nossa moeda em mais de 30%; enfrentou uma fuga de capitais que reduziu o índice Bovespa à casa dos 50 mil pontos...

Por fim, viu os preços de nossas principais commodities serem depreciadas artificialmente no mercado internacional e... em nossa nação... esbarrou-se em um congresso que não permitiu que nenhuma de suas propostas para defender nossa soberania fosse aprovada.

O grande empresariado, com o apoio dos grandes bancos privados, congelou o crédito no país e começou a demitir em massa. Em fevereiro de 2016 a grande mídia mentia dizendo que tínhamos 9 milhões de desempregados, quando na verdade tínhamos pouco mais que 5 milhões. Ainda assim, esse desemprego era uma criação de um golpe orquestrado e que depois levaria o desemprego à casa dos 15 milhões e o déficit público em livre disparada.

Imaginemos todos agora que enorme derrota iríamos impor à direita, ao grande capital financeiro, aos paneleiros, a todos os golpistas e principalmente à Rede Globo se colocássemos novamente - pelo voto popular - uma presidente que nunca deveria ter sido deposta.

Mais que isso, ao retornar ao poder, Dilma teria a força moral e política - nacional e internacional - para revogar todas as medidas desastrosas desse atual governo ilegítimo e golpista. Seria um tapa na cara da Casa Grande e edificaríamos - sob o ponto de vista político - nossa “Grande Muralha” blindada contra futuras investidas imperialistas.

A vitória de Dilma significaria também o fim da Rede Globo, o fim da farsa da Lava-Jato e o fim de uma direita decrépita, escravista, machista e entreguista.

Há algo que os institutos de pesquisa tentam esconder do povo: se Lula não é o candidato, Dilma está em primeiro lugar (mas não com uma vantagem tão ampla) em qualquer composição de candidatos.

E se Dilma estiver no segundo turno, qual é o candidato da direita que possui dignidade moral para enfrentá-la?

Seria o entreguista insosso, Alckmin? Por acaso Bolsonaro, o defensor da tortura, terá a coragem de olhar nos olhos de Dilma e dizer que foi certo uma jovem garota ter sido torturada por defender a democracia? Ou teríamos para enfrentá-la a ecocapitalista Marina Silva que não tem nenhum cabedal e possui a mácula de ter sido a grande apoiadora de Aécio em 2014?

Dilma vai para o segundo turno em qualquer cenário. E no segundo turno, Dilma vence. E a sua vitória é a derrota de todos os que hoje usurpam o direito do povo brasileiro em viver em um país soberano, democrático e próspero.

Por isso, não tememos um eventual impedimento da candidatura de Lula. Ainda temos algo mais poderoso e ideal: temos Dilma para 2018. E com ela - certamente - teremos Lula em seu governo como grande aliado e parceiro para as grandes lutas que estão por vir a partir de 2019. Carlos Dincao, historiador.

sábado, fevereiro 03, 2018

Roth e outro



      Releio dois livros: “O passado de uma ilusão – ensaio sobre a ideia comunista no século XX”, de François Furet, e “Casei com um comunista”, de Philip Roth. Fui amigo de Furet. Sempre me lembro de um almoço na casa dele, em Paris. Enquanto abria o vinho, ele me disse:
– A independência traz sofrimento.
François Furet foi um grande historiador da Revolução Francesa, que desmontou, caracterizando-a como um mito. A esquerda o detestava. Foi chamado de fascista. Em “O passado de uma ilusão”, desconstruiu mitos do comunismo. Pesquisador de arquivo, trabalhava com fartura de dados e não temia abalar certezas e idolatrias. Outra lição sua:
– O historiador deve saber mais sobre uma época do que quem a viveu.
Para Furet havia dois grandes perigos no jogo político: os fascismos de direita e de esquerda. A tentação de aniquilação do outro pelo insulto e pela desqualificação moral, política e ideológica.
Ira Ringold é o protagonista de “Casei com um comunista”. Ele vem de baixo, mas se casa com uma atriz famosa e vai viver numa mansão. Em tempos de caças às bruxas, arrisca-se, contradiz-se, assusta e provoca. Quando a esposa recebe a alta burguesia em casa, ele não suporta e insulta um convidado armando um grande barraco.
– Como é que uma pessoa consegue sentar para jantar ao lado desse assassino nazista filho da mãe? Como é que fazem uma coisa dessas?
Depois de muita discussão, os convidados preparam a saída. Ira ainda tem insultos em estoque para disparar. Solta o maior petardo:
– Werner von Braun! Um engenheiro nazista filho da mãe. Um fascista nojento filho da mãe. Você se encontra com ele e janta com ele. Verdade ou mentira?
O burguês insultado, marido de uma escritora de best-sellers, não se deu por achado. Ao bater em retirada, limitou-se a dizer:
– Isso é muito precipitado da sua parte, senhor.
Essas leituras são provocativas. Na sobremesa, Furet me resumiu a ideia central que sempre lhe atraiu insultos e contestações severas:
– O fascismo e o comunismo são irmãos gêmeos no ódio devotado à democracia liberal e à liberdade de pensar por contra própria.
De fala calma, Furet botava fogo no circo: “Surpreendente no caso dos intelectuais é que em vários momentos da história existiu a possibilidade de conhecer a verdade. Cito os relatos do início dos anos 20 ou de Souvarine, que foi um dos primeiros a testemunhar sobre o regime soviético, e tantos outros. Ignorou-se tudo isso. Mesmo o relatório de Kruschev não eliminou a ilusão, pois houve uma migração da mitologia comunista na direção da China, de Cuba e mais tarde do Camboja e da Nicarágua”. Ele apanhava os paradoxos: “O mundo burguês na história da humanidade representa a sociedade que produz o maior número de inimigos dela mesma”. Por quê? Por não oferecer redenção.
Edgar Morin lutou contra o nazismo. Saiu do Partido Comunista Francês nos anos 1950. Manteve uma sensibilidade de esquerda. Tem lutado contra racionalizações e cegueiras, “entre as quais a explicação por maquinação, complô ou intriga”, pois tudo isso produz “avalanches, consolidações de erros, ocultações, cegueiras, extravios, divagações, delírios nas vidas, nos negócios e na história dos homens”. Como se ver de fora? Como se conhecer? Como não sucumbir?JM

sexta-feira, fevereiro 02, 2018

Eleições 2018 e o trabalhador

O candidato que quiser vencer as eleições presidenciais de outubro de 2018 junto à classe trabalhadora, terá que oferecer propostas concretas para a geração de empregos de qualidade, implementação de uma política que reduza o número de assassinatos e a manutenção do combate à corrupção.

Outubro 2018

Cenário provável: Lula deve disputar primeiro turno e sua sombra, o segundo.

Brasil 21