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O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), assina nesta quarta (18) um convênio com a FGV (Fundação Getúlio Vargas).Destina-se a promover uma reestruturação nos métodos de gestão do Senado. Para facilitar as mudanças, Sarney determinou a substituição dos 131 diretores da Casa.Com esses gestos, o senador espera dar uma “resposta definitiva” às denúncias em série que sacodem sua atual gestão, iniciada em fevereiro.Os planos de Sarney devem esbarrar na indisposição de Tião Viana (PT-AC). Pintado para a guerra, o petista decidiu contar “tudo o que sabe” sobre o Senado.Nesta terça (17), Tião foi alvejado por uma denúncia, que atribui ao grupo de Sarney. Acusaram-no de ceder, por duas semanas, um celular do Senado à filha de 18 anos.Deu-se entre os dias 4 e 18 de janeiro, período em que a filha de Tião viajou para o México. Em conversa com o repórter, Tião reconheceu:“Minha filha foi ao México, visitar uma amiga de intercâmbio. O celular dela, pré-pago, não funciona lá fora...”“...Foi tudo em cima da hora. Não houve tempo para habilitar outro aparelho. Então, eu dei o meu...”“...Fiz a recomendação de que ela só o utilizasse para atender a ligações minhas e da mãe dela. Assim foi feito”.A informação que corria pelos corredores do Senado, convertidos em lavanderia de roupa suja, era outra. A conta do celular daria para “comprar um carro novo”.“Não é verdade”, diz Tião. Ele se apressou em telefonar para a direção-geral do Senado. Foi informado de que a conta ainda não foi paga.A empresa de telefonia (TIM) nem mesmo emitira o extrato. O senador pediu pressa. Obteve a promessa de receber a conta na manhã desta quarta.“É de minha inteira responsabilidade. Fiz na condição de pai, preocupado com a segurança da filha. Foi a alternaiva mais imediata que me ocorreu...”“...Arcarei com todas as despesas lançadas nesse número de celular. Não houve nem haverá dano ao erário”.Numa evidência de que enxerga as digitais de Sarney na denúncia e de que está decidido a revidar, Tião fustiga:“Me acusam de algo que não gerou um real de dano ao erário. Não está diante da minha filha uma mesa com R$ 1,3 milhão na gaveta, com a Polícia Federal ao redor”.A frase de Tião evoca o Caso Lunus, episódio ocorrido na campanha presidencial de 2002.Candidata do então PFL, Roseana Sarney teve de renunciar à pretensão presidencial depois que, numa batida, a PF apreendeu R$ 1,3 milhão na empresa Lunus.Uma firma que tinha como sócio Jorge Murad, à época marido da filha de José Sarney.O embate do Senado ganhou contornos familiares. Virou uma “guerra de pais”. A investida contra a filha de Tião é vista como uma retaliação.Um revide à denúncia feita contra a filha de Sarney. No início da semana, Roseana fora pendurada nas manchetes em situação constrangedora.Noticiou-se que a senadora usara passagens aéreas custeadas pelo Senado para trazer a Brasília um grupo de parentes e amigos maranhenses.No último sábado (14), almoçando em casa de amigos, Renan Calheiros (PMDB-AL) dissera que Tião estava por trás das denúncias que envenenam a gestão Sarney.Renan prometera troco. A ameaça chegou aos ouvidos de Tião. “Não queria me meter nessa briga. Mas eles me empurraram para o paredão”, diz o senador petista.O revide de Tião virá nas próximas horas, ainda nesta quarta (18) ou, no mais tardar, na quinta (19).O repórter perguntou ao senador o que ele teria de tão grave a revelar. Tião desconversou: “Vamos ver, vamos ver”.Em conversas com amigos e assessores de seu gabinete, Tião revelava-se, na noite passada, um senador tomado de rancores.Dizia coisas assim: “Talvez eu contribua para que seja decretada a falência de uma geração política cujos métodos são incompatíveis com os novos tempos”.Ou assim: “Se um órgão independente como o Ministério Público fizer um levantamento na folha de salários do Senado a Casa não resiste”.Dependendo do que disser Tião Viana, os planos de José Sarney de virar a página das denúncias pode malograr poucas horas depois da assinatura do convênio com a FGV. Quem viver, verá!