Turismo cresce em Cuba após abertura aos EUA | Foto: Eugênio Bortolon / Especial / CP
Impressiona de cara os locais, a conservação e criação de museus e outros aparatos turísticos por toda a área e a presença impressionante de turistas – europeus, latinos e agora, cada vez em maior número, americanos e exilados podem visitar livremente seu país, seus parentes, como se constata em hotéis, permanentemente lotados tanto em Havana como em tantas outras cidades. Voos chegam nos principais aeroportos do país – Havana, Santiago, Santa Clara, Guantánamo (não a base americana, mas a cidade cubana), as praias de Cayo e tantos outros locais.
Foto: Eugênio Bortolon / Especial / CP
Restaurantes se espalham pelas cidades. Alguns restaurantes particulares extraordinários, ótimos, outros mais ou menos, outros ruins, como em todos os lugares do planeta. Pequenas pensões e hotéis particulares estão sendo criados. A privatização de bens e serviços cresce. Conversei com vários cubanos nativos ou exilados em hotéis e pude constatar que já se pode falar bem ou mal do regime, ainda de partido único. Não há mais um espião do estado em cada buraco para prender eventuais discordantes do regime.
É óbvio que Cuba não é um pais rico, sofreu com o fim da União Soviética no início dos anos 90, de onde vinha seu grande apoio econômico e era seu mercado principal de idas e vindas de produtos, mas não é um país miserável, não é um país onde os moradores passam fome ou sofram carências irreversíveis para sobreviver. Não há favelas como no Brasil. Há casas precárias, mas não se nota aglomeração maciça de famintos, segregados, vivendo à margem da sociedade.
A ilha de Cuba, com seus 12 milhões de habitantes e 110 mil quilômetros quadrados de área, oferece, porém, coisas essenciais: saúde e educação. Todos podem estudar e há outdoors espalhados por Santiago e Havana dizendo que a educação e a saúde são direitos inalienáveis de todos. Não pode ser recusado para ninguém.E não precisa esperar por anos a fio por consultas. Tudo é mais ou menos na hora, como me disse um entusiasmado taxista de Havana, que levou sua mulher para um hospital para emergência e foi prontamente atendida. “Até cirurgia plástica ela precisou fazer e foi feita. Não gastei nada. Aqui não há plano de saúde. O direito ao atendimento médico é universal”, afirmou.
Segurança em Cuba
Outra coisa extremamente interessante é a segurança. É claro que são coisas incomparáveis, mas Cuba é tranquila. Não há perfeição nessa área. Mas pode-se circular, sem medo, à noite por lugares mais escuros, como a cidade velha de Havana ou a cidade velha de Santiago. Um guia cubano me disse que quem rouba turista ou outro cubano sofre penas severas, rigorosas, prisão por vários anos. Como pude notar, Cubana está séculos à frente das grandes cidades brasileiras nesta área.Aqui se rouba e se mata por um tênis e por meia dúzia de reais. Lá, comércio de drogas e tráfico, nem pensar. Quem for pego com maconha ou cocaíca, ou ainda crack, está definitivamente liquidado. Mas isso não significa que elas não existam. Mas em doses tão mínimas e imperceptíveis. Detalhes que pude observar em Havana e Santiago é que há ofertas de prostitutas nas proximidades de hotéis, mas de forma tão escamoteada, que ainda não dá para dizer que este comércio inseguro e que gera roubos de turistas exista em doses elevadas.
Ganha-se muito pouco em Cuba em termos salariais. Mas não há grandes disparidades entre os diferentes níveis de trabalhadores- de médico a enfermeiro, de engenheiro a professor, de lixeiro a recepcionista de hotel, de funcionário público a trabalhador comum. Mas também não há desigualdades brutais. Cuba tem suas castas de privilegiados, mas nada que seja aviltante e agressivo. Mas que há, isso não há dúvida. Como também dá para dizer que não falta leite e comida para todos. Mas a prioridade é para as crianças. Elas podem comer e são as únicas que têm direito a carne bovina – rebanho cubano é pequeno, de apenas 4 milhões de cabeças.
O transporte é o setor mais precário ainda, segundo alertam os próprios dirigentes cubanos, conforme entrevista que ouvi na tevê estatal na quarta-feira, dia 23 de novembro. Ainda há ônibus velhos, caçambas de caminhões adaptadas para transportar pessoas, milhões de carros dos anos 50 circulando pelas ruas, ao lado de últimos modelos de fabricantes coreanos, japoneses e europeus, inclusive caríssimos Mercedes Benz ou BMW, a serviço de representações diplomáticas. Mas os cubanos já têm acesso a carros importados, pagando pouco e a longo prazo, mas para utilização para o bem comum – táxis, por exemplo.
Ainda existe o bloqueio econômico americano, que lentamente está terminando, mas que ainda vai demorar longos anos. Há carências de produtos, as lojas e galerias (shoppings) têm poucas ofertas para quem gosta de consumir (produtos asiáticos predominam), mas nada que seja extremamente gritante. "Tudo vem no seu devido tempo, pode demorar um ano ou vários, mas teremos uma situação econômica mais interessante", me disse um vendedor de uma galeria da Ciudad Vieja de Havana.
Por fim, Cuba, descoberta em 1492 por Cristóvão Colombo e que ao logo de toda a sua história de invasões e domínios por europeus, principalmente espanhóis, foi um país explorado, vilipendiado, massacrado e roubado, como aconteceu em toda a América Latina, é um novo país agora, com quase 58 anos, graças aos revolucionários de Sierra Maestra. Podem chamar Cuba de tudo de ruim, de ditadura e outras coisas negativas, mas também não como negar que é um lugar encantador, com praias espetaculares, um mar do Caribe dos sonhos e agora uma provável nova democracia.
O caminho está aberto, as portas estão abertas, a história é apaixonante por isso mesmo – pode dar tudo ou nada. É um jogo de xadrez, com peças se movimentando de um lado para outro. E. neste jogo, tudo pode acontecer. Mas que as chances de um país sólido e forte crescer e com modelos democráticos e mais livres estão surgindo escancarados na vista do mundo e dos próprios cubanos, ah. isso estão. É a minha crença depois de algumas viagens por lá. E, quer queiram ou não, o comandante Fidel é um dos responsáveis por este novo país.