sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Fuga de minorias

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O Brasil tornou-se rota de integrantes de minorias iraquianas que fogem do terror da facção radical Estado Islâmico (EI) para tentar conseguir refúgio na Europa.
Em janeiro, pelo menos 34 pessoas desembarcaram em São Paulo, com passaportes falsos, cruzaram o país de ônibus até o Pará e, de lá, seguiram para a Guiana Francesa. Já em território francês, tentaram embarcar para Paris.
O primeiro grupo, de 18 pessoas, conseguiu entrar e sair do Brasil sem ser notado, e embarcar em Caiena, no país vizinho, até Paris. Os passaportes falsos gregos e israelenses que usavam foram descobertos pela polícia no aeroporto de Orly.
Editoria de Arte/Folhapress
ROTA DE FUGACaminho de minorias iraquianas para a Europa passa pelo Brasil
ROTA DE FUGACaminho de minorias iraquianas para a Europa passa pelo Brasil
O grupo deixou a região de Mossul, no norte do Iraque, em agosto de 2014 e percorreu mais de 10 mil quilômetros para tentar recomeçar a vida na Europa.
Depois do episódio, um alerta foi emitido para a Polícia de Fronteiras na Guiana Francesa e, em 25 de janeiro, um novo grupo de 16 iraquianos, da minoria yazidi, -dez homens e seis mulheres- com documentos falsos gregos e israelenses foi detido ao tentar embarcar para Paris.
Os yazidi e outras minorias, como os cristãos, têm sido perseguidos pelos sunitas radicais do EI, que querem formar um Estado com parte dos territórios do Iraque e da Síria
O superintendente da Polícia Federal no Pará, Ildo Gaspareto, confirmou àFolha que o segundo grupo passou pelo aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em 17 de janeiro, e deixou o país no dia 25, sem que os passaportes fossem identificados como falsos.
Como os documentos israelenses e gregos são isentos de visto de turista no Brasil, eles declaram ser este o motivo da entrada no país.
"Os passaportes seriam de muito boa qualidade, provavelmente produzidos na Turquia", disse Gaspareto. Agora a Polícia Federal quer analisar os documentos -apreendidos na Guiana- para estudar a fraude.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
Segundo informou uma representante do governo da Guiana Francesa àFolha, os iraquianos informaram ter pago, cada um, € 14 mil (cerca de R$ 44.000) a uma organização criminosa pelo pacote de passaportes falsos e os voos da Turquia até a América do Sul e, depois, até a Europa.
Gaspareto disse que, conforme acordo assinado anteriormente com a França para casos de documentação ilegal, o Brasil estava disposto a receber de volta os iraquianos e reenviá-los à Turquia.
"Passamos a semana negociando isso, (...) mas na sexta (30) à noite, a França decidiu analisar o pedido de refúgio deles", disse. A Ofpra (Agência Francesa de Proteção aos Refugiados e Apátridas, em francês) vai decidir sobre o refúgio na próxima semana.
Segundo o governo local, o grupo está em um hotel em Caiena e recebe ajuda de organizações humanitárias.
Para um diplomata lotado em Paris, o governo brasileiro acredita que casos de iraquianos que usam o país como rota para a Europa sejam "isolados". "Não deve haver milhares de refugiados usando o Brasil até porque se trata de uma rota muito cara."
Segundo Gaspareto, a partir das últimas duas ocorrências, a Polícia Federal está prestando agora "especial atenção" a estrangeiros com passaportes dos dois países utilizados: Israel e Grécia.
Se forem pegos com documentos falsos, eles serão deportados ao país do qual vieram, em voo da mesma companhia -a não ser que optem por entrar com pedido de refúgio no Brasil.

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