sexta-feira, abril 27, 2018

O inocente Rocha


Rocha Loures, o homem da mala, declarou em depoimento que não sabia o que estava carregando. Assessor do presidente da República, ele protagonizou uma das cenas mais emblemáticas dos tempos atuais: a corrida com uma mala cheia de dinheiro. Um trote ansioso e culpado. Fico imaginando entrevistas com o inocente carregador da mala.
– O senhor não sabia o que estava levando?
– Uma mala.
– Mas não sabia o que tinha dentro dela?
– A mala não era minha.
– E daí?
– Não abro mala dos outros.
A inocência de Rocha Mala chama a atenção do mundo. Como ele pode ter sido tão “ingênuo” a ponto de carregar uma mala com meio milhão de reais sem ao menos desconfiar do que estava puxando a trote.
– Se o senhor não sabia que tinha dinheiro na mala, como está afirmando diante de nós, por que estava correndo daquele jeito?
– Não sei correr de outro jeito.
– Certo, mas para que correr?
– Para ir mais rápido.
– Por que a pressa?
– Para guardar a mala. É perigoso andar de noite na rua com uma mala.
A argumentação de Loures tem lógica, uma lógica singular, sinuosa. Ele, por ser muito educado e prestativo, prontificou-se a transportar e guardar uma mala sem tomar o cuidado de informar-se sobre o seu conteúdo. O destinatário também não era do seu interesse.
– Não sou carteiro.
– Por que então aceitou levar a mala?
– Porque me pediram.
– Não disseram para quem era a mala?
– Não perguntei. Não me meto nas malas dos outros.
Lembrado de uma conversa telefônica na qual, ao ser informado de que receberia R$ 500 mil, teria dito “tá”, Rocha Loures protesta:
– Não digo “tá”. Sempre falo “está”.
– Mas é a sua voz?
– Dizem que é a minha voz.
Inocente e ingênuo, Rocha Loures pode entrar para a galeria dos personagens mais tolinhos da história do Brasil. Imagino a sua tese:
– Sou apenas discreto.
– Um discreto amigo do presidente?
– Não sou amigo dele. Fui seu assessor.
– O senhor será para sempre o homem da mala.
– Não é justo. Só fiz um favor a um conhecido.
Num mundo de cinismo, a inocência de Rocha Loures é comovente. Já não existem muitos homens dispostos a trotear com uma mala, desconhecendo seu conteúdo, apenas para ser gentil com alguém. Loures pode ser um exemplo de desapego, desinteresse, amizade e gentileza. Com tanta inocência e ingenuidade, será absolvido? É o homem do ano.JM

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