É do palácio para a cadeia. Sem transição. O Rio de Janeiro continua lindo. A imagem do cartão postal mudou. O Corcovado agora concorre com governador de braços abertos atrás das grades. Houve um tempo em que a prisão se dava depois de terminado o mandato. Não há mais como esperar. Salvo no caso do senador Aécio Neves. Esse teve tempo até para se eleger deputado. O governador carioca Luís Fernando Pezão acrescentou uma linha no seu currículo: integrante de organização criminosa. O Brasil inova. Dá para imaginar um diálogo de Sérgio Cabral com Pezão no corredor das celas:
– Demorou, camarada!
– Você está fazendo escola, mermão.
Pezão é o quarto governador do Rio de Janeiro a ser hospedado por conta do erário público numa prisão. Antes dele, o casal Garotinho e Sérgio Cabral preencheram ficha nos hotéis gradeados da cidade maravilhosa. Pezão é o primeiro a ir direto do gabinete de governador para o xilindró. Trocou carro oficial blindado por camburão. Uma distinção sem precedentes. Chama a atenção o prontuário do paciente segundo a Procuradora-Geral da República: “Ficou demonstrado que, apesar de ter sido homem de confiança de Sérgio Cabral e assumido papel fundamental naquela organização criminosa, inclusive sucedendo-o na sua liderança, Luiz Fernando Pezão operou esquema de corrupção próprio, com seus próprios operadores financeiros”. Um homem, como se vê, de personalidade própria e com capacidade de organização, capaz de definir o próprio destino e de gerir os seus negócios com autonomia.
Que outro lugar pode oferecer a turistas histórias tão pitorescas? O guia pode criar um circuito de governadores presos: casa, palácio, cadeia. Do Leblon a Bangu, da Barra da Tijuca a Benfica, das Laranjeiras ao inferno. Programas de auditório podem explorar esse rico filão fazendo perguntas valendo muito dinheiro sobre os governadores do Rio de Janeiro presos com pontos extras para quem acertar os valores amealhados pelos meliantes diplomados pelo voto popular e destituídos pela polícia e pela justiça em flagrante. Pode cair até em concurso. A letra da música também precisa ser reescrita: “Mas o malandro pra valer, não espalha, reinventou a navalha, tem secretários, voto e tal, dizem as más línguas que ele até governa, mora no palácio, chacoalha seu ócio em helicóptero oficial”.
Sempre se deve procurar o lado positivo das coisas. Nunca governadores de um Estado tiveram uma visão tão profunda do sistema penitenciário local. Eles poderão escrever relatórios detalhados com sugestões para as autoridades em troca de remissão de pena. Outro aspecto a considerar é que existe agora algo mais sujo no Rio de Janeiro do que a Baía da Guanabara: a ficha corrida de governadores. Onde foi que tudo virou? Como se pergunta Zavalita, personagem do fantástico romance “Conversa na Catedral”, de Mario Vargas Llosa, “em que ponto o Peru se f…errou?” A palavra usada é outra, mais coloquial, mais carioca até. Quando foi que o Rio de Janeiro se ferrou? Em que ponto o Rio se cravou?JM