Ricardo Lewandowski atende Felipe Recondo sob vigilância de Felipe Seligman
O prato de entrada da festa foi o mensalão. Como os jornais do dia vociferavam pragas diante da possibilidade de prescrição no caso, o assunto durou até que se soube da liminar assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski, que proibiu o Conselho Nacional de Justiça de quebrar sigilos bancário ou fiscal de juízes. Não demorou e o próprio ministro chegou para explicar sua decisão. Já estavam por ali os ministros do Superior Tribunal de Justiça Luis Felipe Salomão, Marco Aurélio Bellizze e Antônio Carlos Ferreira, que dividiram a mesa com o secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, Marcelo Vieira de Campos, e jornalistas que se revezavam nas cadeiras disponíveis.
Marco Aurélio Bellize, Antônio Carlos Ferreira e Luis Felipe Salomão do STJ ao lado de Ricardo Lewandowski do STF
O decano na cobertura do STF, Luiz Orlando Carneiro, do Jornal do Brasil — um dos poucos jornalistas que o ministro Cezar Peluso recebe despreocupadamente — cercado por repórteres menos escolados que costumam procurá-lo para aproveitar sua experiência, mergulhava num raciocínio em torno do momento em que a AMB ingressou com o pedido contra o CNJ. Baseado na informação que a repórter Débora Zampier (Agência Brasil) acabava de trazer — que a ministra Cármen Lúcia poderia assumir a Presidência do tribunal até 10 de janeiro — Luiz Orlando questionava se os advogados Pedro Gordilho e Alberto Pavie não teriam se aproveitado dos indícios já dados pela ministra contra as ousadias do CNJ.
Mariangela Gallucci, Luiz Orlando Carneiro, Filomena Paixão e Felipe Seligman
Claro, a cogitação evaporou quando o repórter Rodrigo Haidar esquentou o jantar, com a notícia da liminar de Lewandowski. Com a naturalidade discreta a que estão habituados, os jornalistas imediatamente sacaram de seus celulares para informar os veículos onde trabalham da novidade que ocuparia as primeiras páginas dos jornais na semana que se seguiu. Com a chegada de Lewandowski, acompanhado de seu escudeiro, Manoel Carlos de Almeida Neto, secretário-geral da Presidência do TSE, a notícia ficou completa.
Marcelo Vieira do Ministério da Justiça, Rodrigo Haidar e Diego Abreu
O grupo Globo foi o mais presente no jantar. Compareceram o , Sérgio Fadul, chefe da sucursal do jornal em Brasília; Francisco Leali; Diana Fernandes; Gerson Camarotti e Filomena Paixão, a Filó, da produção do Jornal Nacional. A Folha de S.Paulo esteve lá com Fernando Rodrigues, Valdo Cruz, Felipe Seligman e, por telefone, Mônica Bergamo. Mais Felipe Recondo, Mariangela Gallucci e Vera Rosa (Estadão); Ana Flor, que acaba de trocar a Folha pela Reuters; Eumano Silva, diretor da revista Época em Brasília; Diego Abreu, do Correio Braziliense; Denise Bacoccina, da revista Istoé Dinheiro; do bloco dos assessores: Joyce Russi e Layrce Lima (STF), Renato Parente (TST) Samuel Figueiredo, da F7; Sérgio Amaral, ex-chefe de imprensa do STF, e o diretor da Associação Nacional dos Jornais, Ricardo Pedreira. Dos jornalistas que cobrem regularmente o STF faltou Juliano Basile, do Valor.
Sergio Camarotti e Denise Bacoccina, com o anfitrião, Dias Toffoli
Jefferson Guedes, que esteve na AGU à época em que Dias Toffoli comandou a instituição e hoje é vice-presidente jurídico dos Correios, conferia projeções com o principal analista das atividades do Congresso, Antônio Augusto Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Dias Toffoli e Lewandowski conversam com Sérgio Fadul
Os ministros do STJ, em uma roda da qual participava Lewandowski, ouviram em silêncio a opinião de um jornalista para quem o Mensalão tem muito de circo e pouco de substância. Eles estavam mais interessados na tecnologia de gestão que tornou famoso o gabinete de Lewandowski, pela operacionalidade e eficiência. O ministro marcou com eles uma visita para mostrar como a coisa funciona na prática. E fez uma revelação: quando assumir o comando do CNJ pretende criar um modelo de certificação própria para o Judiciário brasileiro — e explicou como isso é possível.
O aniftrião Dias Toffoli e a jornalista Ana Flor
Alguém falava com o ministro Marco Aurélio ao telefone e concordava que o CNJ não tem estrutura nem pessoal suficiente para substituir todas as corregedorias do país. E mais: que tirar a responsabilidade das corregedorias seria institucionalizar a atrofia desses órgãos, ou seja: um erro rotundo. O tipo de opinião que um jornalista não escreve. Aliás, os leitores comuns talvez estranhassem a cordialidade e a concordância de um jornalista conversando com sua fonte, em contraste com a agressividade estampada nos textos jornalísticos. Primeiro porque, conforme ensinam os mais velhos, repórter não discute com a fonte nem briga com a notícia. Segundo porque a técnica do jornalismo vigente não comporta nuances nem as complexidades da vida real na hora de escrever a notícia.Exemplo disso é o contraste entre a imagem do ministro Joaquim Barbosa, projetada nas notícias, e a opinião que se colhe dele em ocasiões como essa. Personagem periférico nas conversas, por se ter esquivado da decisão que deixou o colega Lewandowski em saia justa, a visão que se tem de Barbosa é a de alguém num beco sem saída. E a opinião que ele tem dos colegas e destes a respeito dele é cada vez mais parecida — igualmente em relação a jornalistas que cobrem o STF.
Diego Abreu, Felipe Recondo e ministro Marco Aurélio Bellizze, do STJ
Para o próximo encontro, suscitou-se, como blague, que a festa tivesse troca de presentes, no estilo amigo oculto. Mas em vez de gravatas e livros, as lembranças seriam itens como liminares, preventivas, termos de ajuste de condutas, denúncias ou uma dessas reportagens barulhentas que sacodem a vida de qualquer um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário