terça-feira, janeiro 10, 2017

Matar mais?


Muita gente gostou da declaração de Bruno Júlio, então secretario nacional da juventude do governo Michel Temer. O peemedebista, provocado a falar sobre o horror nos presídios de Manaus, não se conteve: “Eu sou meio coxinha sobre isso. Sou filho de polícia, né? Tinha era de matar mais. Tinha de fazer uma chacina por semana”. Duas coisas chamam a atenção nessa fala: o seu conteúdo grotesco e a confirmação de que “coxinhas”, termo que se popularizou nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, defendem alguns métodos expeditos de atuação.
É mais uma versão da filosofia segundo a qual “bandido bom é bandido morto”.
Ideias simples tendem a propagar posturas perigosamente simplórias. O Brasil vem despencando no abismo da simplificação fascista. Boa sociedade é aquela que pune justa e rigorosamente. Nas democracias, a punição é a privação da liberdade. Nada mais. Não estão previstas a tortura e as condições indignas de encarceramento. No caso do Brasil, nem a pena de morte. O país precisa de mais presídios? Talvez. Precisa mesmo é de mais julgamentos. Mais de 30% dos presidiários não têm condenação. Boa parte poderia estar livre. Gilmar Mendes, ministro do STF, que nada tem de revolucionário, defende a descriminalização das drogas.
A população carcerária com essa medida cairia drasticamente.
Só que esse tipo de olhar contraria o senso comum defendido pelos que aplaudiram Bruno Júlio. É o pessoal que olha bandido com olhar de bandido: olho por olho dente por dente. Dá para entender que o agredido sinta ódio do agressor. O Estado, porém, deve ser racional. A punição não é vingança. A declaração de Bruno Júlia é sintomática: revela o estado de exasperação da sociedade e o total desinteresse pelo Estado de Direito.
Matar mais e fazer uma chacina por semana não fará do Brasil um país melhor. O mundo dito civilizado está horrorizado com a situação prisional brasileira. O que fazem a Suécia, a Noruega, a Suíça e outros países assim para ter menos violência? Aplicam prisão perpétua por roubo de celular? Encarceram em sucursais do inferno? Imitam o presídio central de Porto Alegre? Praticam e aplaudem uma chacina por semana? Nomeiam secretários com ideias medievais? Entregam prisões para a administração de facções? Privatizam a gestão de presídios tornando-os mais caros por preso e ainda menos eficientes? Fazem da corrupção uma parceria público-privada a fundo perdido?
Bruno Júlio encarnou o pior do Brasil: a simplificação grosseira que passa por bom senso de “gente de bem”.
O homem comum guia-se por seus sentimentos.
O Estado deve pautar suas políticas pela razão. Bruno Júlio caiu. Já foi tarde. Enquanto declarações com as dele forem aplaudidas o Brasil continuará atolado no atraso. Se um turista, no Rio de Janeiro, sair da rota e entrar no imenso mundo da desigualdade, poderá, caso sobreviva, responder na volta: tem como dar certo desta maneira? Se o turista for sueco, proporá igualdade. Se for do time de Bruno Júlio, defenderá uma chacina por semana. Na bucha.
O Brasil precisa matar mais?
Não. Obviamente. O Brasil precisa é de futuro.
O nosso presente é o passado!Juremir Machado

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