quinta-feira, julho 06, 2017

Quarto fechado para Geddel


Michel Temer vive entre o ser e o nada.
Só não sabe quem é o ser.
Na sua condição de homem livre, escolheu existir por meio de um atalho.
Instalado, por força certamente da sua essência, no poder, atirou-se ocaso com certa pressa.
A fotografia oficial da sua posse é um elogio ao código penal.
Depois desse instante de glória, Temer passou de Sartre a Camus: rola a sua pedra.
Todo dia um dos seus experimenta viver entre quatro paredes sem janelas nem liberdades.
Dois dos seus ex-ministros, Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima, foram das cédulas às celas.
Romero Jucá sobrevive à luz do sol graças à obscuridade do seu mandato de senador.
Moreira Franco protege-se com sua capacidade de contradizer seu sobrenome.
A fotografia da posse é uma colcha retalhada pela polícia a cada mês.
Até o desconhecido estafeta do presidente, Rocha Loures, o homenzinho da mala, sentiu náuseas na prisão, de onde ainda não deveria ter saído, mas para onde todos os enredos o levam de volta.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que se deve seguir a narrativa.
Para ele, criminosos de alto escalão não assinam suas obras nem passam recibo.
Basta-lhes ser ghost writer. A noção de autoria já não os nobeliza.
Temer avança rapidamente do ser para o nada.
A Polícia Federal come o seu fígado com bicadas rapaces.
A águia do parlamento se arrasta como um réptil do deserto do executivo.
Vez ou outra, porém, tem arroubos de pássaro altivo: quer voar, reformar e tocar o sol.
Então ouve os gemidos dos seus amigos presidiários e cai prostrado à espera de um novo dia.
O poder corrompe. A corrupção empodera.
A existência precede a essência. Mas, no caso de Temer e dos seus, não a nega.
Aguardemos os próximos capítulos.
A corrupção é uma obra aberta.
O autor se diz morto.
Os seus personagens vivem à solta.
O protagonista tem ar de espectro.
Até quando será?
Quando sairá do nada para virar nota de rodapé na história?JM

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