Em reunião realizada nesta quarta (3), o PMDB decidiu que terá um candidato à presidência do Senado.A portas fechadas, Renan Calheiros (AL) fez a intervenção mais enérgica.O "aliado" de Lula falou como se estivesse a caminho da oposição.Renan disse aos colegas que é hora de o PMDB pensar menos no governo e mais em si mesmo.Afirmou que a legenda já ajudou demais o governo. Aprova todas as medidas provisórias que aportam no Congresso. Defendeu a tese de que o PMDB precisa ter fisionomia própria. Uma cara que seja compatível com o seu tamanho e com a sua importância.Lembrou que se avizinha a eleição de 2010, para a qual o partido precisa se preparar adequadamente. Algo que exige a ocupação de todos os espaços. De resto, Renan anteviu um cenário de borrasca para o ocaso da gestão Lula. A crise financeira, disse ele, será "muito mais séria do que se imagina". O discurso de Renan deu o tom da reunião. Líder de Lula no Senado, Romero Jucá atreveu-se a esboçar um contraponto.Disse que os senadores precisam pensar em Michel Temer (SP). Candidato à presidência da Câmara, Temer precisa dos votos do PT. E pode não tê-los se o PMDB se recusar a apoiar Tião Viana (PT-AC) no Senado.As palavras dissonantes de Jucá foram repelidas com energia pelo baixo clero da bancada, incendiado pelo cardeal Renan. A certa altura, Geraldo Mesquita (AC), um desafeto de Tião Viana, bateu boca com Jucá.Abrigaram-se na trincheira da candidatura própria também os ex-integrantes da tropa de choque que ajudou a livrar Renan dos recentes processos de cassação.Almeida Lima (SE), o advogado da tropa de elite de Renan, defendeua confecção de uma ata da reunião. Era como se desejasse dispor de um registro formal, para cobranças futuras.Wellington Salgado (MG), o suplente do ministro Hélio Costa (Comunicações), levou à mesa um argumento prosaico.Disse que o partido deve reivindicar o comando do Senado porque é preciso assegurar a Garibaldi Alves (RN) uma nova vitrine para quando ele deixar a presidência da Casa."Nosso presidente tem de ter uma comissão importante", disse Salgado. De olho na presidência da Comissão deJustiça, Garibaldi tratou de engrossar o coro da candidatura partidária.E quanto ao nome? Decidiu-se que isso fica para depois. Pedro Simon (RS), cogitado pelo neoaliado Renan como alternativa, limitou-se a defender o direito do PMDB ao posto.Um dos presentes disse que não faltam nomes ao partido. Mesmo que Simon e o morubixaba José Sarney (AP) recusem o desafio.Sarney ouvia a tudo calado. Só interveio no final. Rendeu-se à maioria que se formou em torno do candidato próprio. Evitou apresentar-se como postulante. Mas não disse nada que pudesse ser entendido como uma autoexclusão.Há 15 dias, em reunião convocada por Michel Temer, Sarney jurara que não almejava o comando do Senado. Liberara Romero Jucá para tricotar o apoio a Tião Viana.Antes, em reunião com Lula, Sarney comprometera-se a auxiliar na costura da composição do PMDB com Tião.No encontro desta quarta, as palavras ditas a Temer viraram pó. E o compromisso assumido com Lula converteu-se em potoca.Terminada a reunião, vendeu-se a candidatura própria como uma decisão unânime. Não foi bem assim.Pelo menos um senador, o dissidente Jarbas Vasconcelos (PE), não se manifestou. Está, por ora, fechado com Tião Viana.Disse a amigos que vai aguardar a escolha do nome do PMDB. Afirma que não vota em qualquer um.Quem saiu ganhando com a decisão do PMDB? Renan, Sarney e os líderes da oposição que confabulam com a dupla: José Agripino Maia (DEM-RN) e Arthur Virgílio (PSDB-AM).Quem perdeu? Jucá, Temer, Raupp (RO), Tião Viana e, sobretudo, Lula. Se o PMDB esticar a corda, o presidente será levado ao córner pelo mesmo Renan que ajudou a salvar. Ironias da política, segundo Josias de Souza.
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