domingo, dezembro 04, 2011

Torna-se frequente no DF os "garage sales"

Lixo ou relíquia? Algo que não te serve mais pode ser o sonho de consumo de alguém. Com esse pensamento, é cada vez mais comum a organização de garage sales (vendas de garagem), com a intenção de passar móveis, roupas, peças de decoração e muito mais para um próximo dono. Funciona como um bazar. Quem tem intenção de vender organiza um tipo de feira, geralmente na própria casa.Desfazer-se das próprias coisas, para muitos, é um exercício de desapego. Os motivos para querer se livrar de alguns itens variam. Vão da vontade de renovar a decoração da casa até a mudança para um espaço menor, que não comporta toda a mobília. O que é oferecido para o comércio recebe etiquetas com preços. O pagamento quase sempre é à vista. É possível encontrar tesouros pela metade do valor cobrado no mercado.

Adonias Oliveira  e a mulher, Kika Matos, procuram ofertas em garage sales há oito anos (Breno Fortes/CB/D.A Press)
Adonias Oliveira e a mulher, Kika Matos, procuram ofertas em garage sales há oito anos


O servidor público Raul Dusi, 51 anos, morador do Lago Norte, abriu as portas de casa na semana passada para os compradores. Entregou heranças de família, a coleção de pratos de porcelana decorados de várias partes do mundo, a máquina de costura retrô e o telefone de discar à moda antiga, além de obras de arte, louças e muito mais. “Eu e a minha esposa fizemos as vendas no dia em que completamos 22 anos de casados. São muitas coisas acumuladas. Resolvemos renovar, quisemos nos desfazer sem jogar fora. Exercitamos o desapego. No começo, ficamos na dúvida sobre vender peças de valor sentimental, mas é o sentimento que importa, não o objeto em si”, explicou.Há entre 8 e 12 garage sales todo fim de semana no DF. A maior parte em áreas nobres, como os lagos Sul e Norte. Com frequência, fazem-se bazares em embaixadas ou em residências de diplomatas, que mudam de endereço e precisam se desfazer de bens. Disponibilizam obras de arte e móveis assinados. Os eventos são disputados. Recebem em torno de 150 pessoas, diariamente. No primeiro dia, há fila na porta das casas, com pessoas ansiosas para aproveitar a chance de comprar produtos de qualidade por um valor acessível. Às vezes, é preciso distribuir senhas para organizar o atendimento.A administradora de empresas Kika Matos, 55 anos, e o marido dela, o corretor de imóveis Adonias Oliveira, 57, moradores da Asa Sul, são adeptos dessa forma de compra. Toda semana procuram eventos em busca de achados. Fazem isso há 8 anos. Já adquiriram tapete persa, pinturas emolduradas, cabideiro de grife, mesas, baixelas de prata e muito mais. “Nós compramos itens especiais. O preço é realmente muito em conta. Entretanto, é preciso garimpar. Encontram-se tralhas nesses garage sales”, explicou Adonias.

As amigas Norma (E), Mona Lisa (C) e Mariléia fazem sucesso no ramo há um ano (Breno Fortes/CB/D.A Press)
As amigas Norma (E), Mona Lisa (C) e Mariléia fazem sucesso no ramo há um ano


A dona de casa Márcia Vilela, 48 anos, moradora do Lago Norte, mobiliou a casa inteira com itens comprados nesse tipo de ocasião. Há 7 anos, semanalmente, ela busca as melhoras peças em garage sales. “Às vezes, vou só para olhar, conversar. Mas também compro móveis, taças, talheres, vasilhas, enfeites de Natal. Gastei menos de R$ 300 em toda a decoração natalina. Se fosse comprar na loja, não tenho nem ideia de quanto seria”, explicou. Uma das melhores aquisições de Márcia foi uma mesa de jantar. “Ela custa, em média, R$ 20 mil na loja. Eu paguei R$ 4,1 mil.”

Profissão
Esse tipo de venda tornou-se tão popular no DF que alguns “garageiros”, como são conhecidos os frequentadores desses eventos, profissionalizaram-se para organizar os encontros. Há a possibilidade de contratar um especialista para avaliar o preço das peças, etiquetá-las, organizá-las e fazer a divulgação. Em geral, cobra-se comissão de 20% do que for vendido. As amigas Norma Monteiro, 63 anos, Mona Lisa Barembaum, 50, e Mariléia Silva, 59, se uniram para fazer sucesso no ramo, há um ano.As três se conheceram quando precisaram fazer garage sales para elas mesmas. “Eu me mudei para um lugar menor e não tinha onde colocar muitas coisas. Conheci esse serviço e surgiu a ideia de trabalhar com isso”, disse Mona Lisa. Elas atuam em um evento por semana, que dura, geralmente, três dias. Deram o nome de BSM Garage Sale para o grupo que montaram com o slogan de “Tudo que você não quer mais tem quem compre”.Para Mariléia, a atividade vai além do sentido comercial. “As pessoas morrem, envelhecem, voltam para os seus lugares de origem. As coisas ficam para trás. O ato de se desfazer dos bens tem muito significado”, afirmou. “Algumas coisas vêm perdendo cada vez mais o valor, como prataria e grandes peças de decoração clássica. Isso reflete as mudanças no comportamento humano. As pessoas estão vivendo em lugares cada vez menores e percebemmenos a beleza do antigo. Mas sempre aparece algum jovem de bom gosto, disposto a mesclar o clássico com o clean”, relatou. As responsáveis pelo BSM Garage Sale fotografam os produtos com antecedência e colocam as fotos no blog da empresa.A divulgação é um ponto importante para o sucesso das vendas. As amigas Isabel Viana, 43 anos, e Maristela Nasr, 40, são organizadoras de garage sale. A dupla mantém uma lista com 7 mil endereços de e-mail e mandam convites para os bazares. “Além de propaganda e de oferecer preços sensatos, é importante receber bem o convidado, servir um café. Já vi oferecerem champanhe e queijos”, relatou. Alguns adotam a prática de espalhar faixas pela cidade e enfrentam o risco de serem multados pela Agência de Fiscalização (Agefis) por conta da poluição visual.Comerciantes também fazem garage sales. Uma loja de festas localizada no SAAN(Quadra 3, Lote 1.240) venderá 26 mil itens, entre mesas, toalhas, cadeiras e objetos de decoração, em uma venda de garagem programada para 9 e 10 de dezembro. A empresa encerrou as atividades e organizou o queimão com a ajuda do especialista em garage sale Fábio Pereira, 54 anos, morador do Lago Sul. “Conheci esse tipo de venda nos Estados Unidos, na década de 1970. Há mais de 10 anos, trabalho com isso em Brasília. Para mim, é um passatempo. Para quem quer comprar coisas de qualidade, é uma ótima opção”, definiu. Fique atento
Informe-se sobre datas de garage sale ou contrate os organizadores Fábio Pereira (www.gsb7.com), BSM Garage Sale (www.garagesalebsm.blogspot.com) ou Isabel e Maristela (no telefone 61-9204-6771).

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