segunda-feira, fevereiro 09, 2009

PSDB briga com Collor no Senado

O Senado reserva à platéia, nesta semana, um duelo de arrepiar a espinha. O PSDB de Eduardo Azeredo (MG) vai à guerra contra o PTB de Fernando Collor.Será o confronto do sujo contra o mal lavado. Está em jogo o controle da comissão de Relações Exteriores, um dos mais cobiçados recantos do Senado. Considerando-se o tamanho das bancadas, o PSDB (13 senadores) leva vantagem sobre o PTB (sete integrantes). Na briga pelas comissões, toca aos tucanos a terceira pedida. A primeira é do PMDB. Vai escolher a comissão de Economia, apalavrada com Garibaldi Alves (PMDB-RN). A segunda é do DEM. Pedirá a comissão de Constituição e Justiça, que será confiada a Demóstenes Torres (DEM-GO). Dono do terceiro lance, o PSDB optou pela comissão de Relações Exteriores. O problema é que o posto fora prometido a Collor por um redivivo Renan Calheiros (PMDB-AL). Em troca, o PTB despejou seus sete votos na cumbuca de José Sarney (PMDB-AP), ajudando-o a prevalecer sobre Tião Viana (PT-AC) na briga pelo comando do Senado. Farejando o cheiro de queimado, o líder tucano Arthur Virgílio (AM) fechou uma aliança com ‘demos’ e petistas. Juntos, PSDB, DEM e PT têm número para mandar ao beleléu a pretensão de Collor. Mas o tucanato resolveu esgrimir, além de votos, um argumento moral. Diz-se que Collor, escorraçado do Planalto pelo impeachment, não teria estatura moral para comandar uma comissão que se relaciona com autoridades estrangeiras. Beleza. Nesse campo, contudo, o bico dos tucanos revela-se maior do que a memória. Azeredo também traz enganchada à biografia uma passagem constrangedora.As arcas de Marcos Valério foram inauguradas na campanha mineira de Azeredo, em 1998. Depois que a notícia foi às manchetes, o PSDB não se constrangeu em manter na sua presidência, por quase um ano, o patrono do mensalão de Minas.O tucanato fez mais. Defendeu Azeredo com um palanfrório torto. Alegou que, em Minas, podia ter havido caixa dois, não desvio de dinheiro público. Em denúncia ao STF, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, furou esse escudo. O texto do procurador aponta o escoamento de dinheiro de pelo menos quatro arcas estaduais: Cemig, Copasa, Bemge e Comig. Coisa de R$ 5 milhões.Collor, o país inteiro sabe, não é flor que mereça ser cheirada. Mas, se decidir manter-se na briga, descerá ao front numa espécie de zero a zero moral com Azeredo. O que torna a briga mais bonita são os seus arredores. O PT, fechado com Azeredo, é estrela da “quadrilha” dos 40 do mensalão, também denunciada ao STF. Renan, aliado de Collor, renunciou à presidência do Senado para salvar o mandato –em meio a um escândalo que misturou a suspeita de pagamentos à ex-amante com verbas de um lobista e negócios com gado inexistente. Collor é açulado também pelo líder do PTB, Gim Argello (DF). Um senador que responde a 38 processos por crimes eleitorais e que se encontra sob investigação em inquéritos que apuram corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação de impostos.Num instante em que o país se prepara para as delícias do Carnaval, vale lembrar a frase de Delúbio Soares. No auge do mensalão, o ex-gerente das arcas do PT previra que o escândalo terminaria em “piada de salão”. De fato, o tempo vem se encarregando de lavar no Congresso as biografias tisnadas por escândalos. Ali, todas as encrencas terminam em piada.Tome-se dois exemplos: Antonio Palocci (PT-SP), réu num processo de quebra do sigilo bancário de um caseiro, presidiu a Comissão Especial da Reforma Tributária. João Paulo Cunha, um dos 40 réus do mensalão petista, foi brindado com a relatoria de uma das medidas provisórias anticrise baixadas por Lula, a 443.Num ambiente assim, não espanta que personagens como Collor e Azeredo se animem a medir forças por uma das principais vitrines do Senado.

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