terça-feira, maio 17, 2011

Famílias do DF são as que mais gastam com habitação no país



Lara Rodrigues, há um ano na cidade, reclama do valor pago por um imóvel de três quartos (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Lara Rodrigues, há um ano na cidade, reclama do valor pago por um imóvel de três quartos

As famílias do Distrito Federal são as que mais gastam com habitação no país. Despesas com aluguel, energia elétrica, condomínio, taxa de água e esgoto, entre outras, comprometem 14,9% do orçamento dos moradores de Brasília e demais regiões administrativas. O percentual supera a média nacional de 13,08%, e deixa para trás as outras cidades onde o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro e Porto Alegre são as capitais onde a proporção dos gastos com moradia mais se aproxima da registrada no DF, ficando em 14,4% e 14,1%, respectivamente. Curitiba, Goiânia e Fortaleza cravam índices de 13,7%; 13,68% e 13,61%. Em São Paulo, conhecida pelo custo de vida altgo, os habitantes não despendem mais do que 12,88% dos ganhos mensais com moradia.Embora pese consideravelmente no orçamento das famílias do Distrito Federal, o grupo habitação não é o que mais consome a renda dos brasilienses, segundo a medição do IBGE. Alimentação e bebidas — 23,4% — e transportes — 18,8% — engolem parcelas maiores dos ganhos mensais. Ainda assim, os moradores do DF sentem fortemente o impacto do alto custo local para morar e reclamam especificamente dos valores elevados dos aluguéis.


Dados do IBGE indicam que, entre os gastos que integram o desembolso com a habitação (veja quadro), a quantia mensal paga pelo inquilino ao proprietário do imóvel é a mais representiva, correspondendo a 4,65% da composição das despesas. Além disso, a inflação do aluguel acumulada até abril deste ano no Distrito Federal foi de 4,74%, 1,4 ponto percentual superior à registrada no Brasil. O grupamento habitação como um todo teve inflação ligeiramente menor, de 3,82% em igual período, patamar equivalente a três vezes a média nacional, que ficou em 1,83%.A realidade do aluguel caro é vivida pela farmacêutica bioquímica Lara Rodrigues, 33 anos. Vinda de Muriaé (MG), Lara está no DF há um ano, desde que se casou com um brasiliense. O casal escolheu a cidade de Águas Claras para morar, onde o metro quadrado é mais barato do que o de áreas nobres como Sudoeste e Asa Sul. Mesmo assim, desembolsa R$ 2 mil com o aluguel de um apartamento de três quartos. “É mais do que gastamos com alimentação, que deve dar uns R$ 1,5 mil”, estima a farmacêutica.Lara ficou surpresa com o elevado custo de vida em Brasília em geral. Entretanto, nenhum outro gasto chamou sua atenção como o das despesas com habitação. “Supermercado, salão de beleza, tudo me assustou. Mas o preço dos imóveis e aluguéis está fora da realidade brasileira. Brasília está vivendo em um mundo à parte”, opina.

Escassez
Na visão do economista Carlos Alberto Reis, professor da Upis – Faculdades Integradas, o custo alto para se morar no Distrito Federal é ditado principalmente pela escassez de terras e unidades habitacionais. “O Distrito Federal é uma região limitada geograficamente. Seu tamanho é fixo. Você não tem venda de imóveis e lotes como há em outros municípios. Por isso, aqui eles são muito caros”, analisa. “Os donos de imóveis precisam, de alguma forma, recuperar os investimentos altos feitos. E isso acontece via preço de aluguel”, completa. Reis cita ainda o mercado aquecido como catalisador do valor alto dos aluguéis.Para o economista, a inflação sobre o aluguel registrada pelo IBGE no primeiro quadrimestre deste ano pode estar relacionada ao início de uma nova gestão no Governo Federal. “A chegada de novos moradores, com bom poder aquisitivo, pode ter contribuído para que os proprietários de imóveis reajustassem vantajosamente seus contratos”, avalia.Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do IBGE, explica que o peso médio da habitação para os brasilienses já situa-se na faixa dos 14% há algum tempo. Segundo ela, uma representatividade elevada do aluguel e outras despesas relacionadas à moradia sinaliza que a região metropolitana onde o fenômeno ocorre tem preços acima da média em relação às demais. “Pode estar havendo uma inflação mais elevada da habitação no local”, afirma.

Migração
A constante valorização dos imóveis em Brasília está forçando a migração de parte das famílias de classe média que pretendem ter casa própria do Plano Piloto para outras regiões do Distrito Federal, como Cruzeiro, Águas Claras e Guará. Na Asa Sul, um apartamento de dois quartos custa acima de R$ 500 mil, enquanto que em Águas Claras, um imóvel com as mesmas características sai por cerca de R$ 250 mil.

 
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