terça-feira, maio 17, 2011

Livro com erros de português são distribuídos para alunos da EJA

Pelo menos 2 milhões de livros que abordam variantes da língua portuguesa — a culta e a popular — foram distribuídos para brasileiros matriculados, nos últimos 10 anos, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), destinado a estudantes com mais de 15 anos. Obras como a Por uma vida melhor, que vem causando polêmica ao apresentar expressões como “nós pega o peixe”, tiveram orientação pedagógica da organização Ação Educativa, que as distribui para secretarias de Educação de todas as regiões do país.A editora começou a distribuir os livros pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), neste ano, quando o EJA foi incluído no programa. No entanto, segundo o MEC, obras que incluem discussões sobre as variantes da língua são distribuídas por meio de programas governamentais há 15 anos.Um total de 484.195 alunos receberam, neste ano, o título Por uma vida melhor, editado pela Ação Educativa, em parceria com a Global Editora. A obra aborda, no capítulo “Escrever é diferente de falar”, o uso da norma popular da língua portuguesa. A autora Heloisa Ramos defende, no livro didático, que não há um único jeito de falar e escrever: “A língua portuguesa apresenta muitas variantes, ou seja, pode se manifestar de diferentes formas (…) As classes sociais menos escolarizadas usam uma variante da língua diferente da usada pelas classes sociais que têm mais escolarização”. Para Ramos, a ideia de correto e de incorreto no uso da língua deve ser substituída pela de uso adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa (veja trechos).Segundo a doutora em educação e coordenadora-geral da Ação Educativa, Vera Masagão Ribeiro, os autores editados pela organização não se furtam a ensinar a norma culta, apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa. “A abordagem é adequada, pois diversos especialistas em ensino de língua afirmam que tomar consciência da variante linguística que se usa pode ajudar na apropriação da norma culta”, disse. A Academia Brasileira de Letras (ABL) divulgou ontem uma nota em que diz estranhar “certas posições teóricas dos autores de livros que chegam às mãos de alunos dos cursos fundamental e médio com a chancela do Ministério da Educação”: “Todas as feições sociais do nosso idioma constituem objeto de disciplinas científicas, mas bem diferente é a tarefa do professor de língua portuguesa, que espera encontrar no livro didático o respaldo dos usos da língua padrão que ministra a seus discípulos, variedade que eles deverão conhecer e praticar no exercício da efetiva ascensão social que a escola lhes proporciona”.O MEC informou que o processo de seleção das obras é “apolítico e impessoal”. De acordo com a pasta, a inscrição das editoras para a oferta de livros didáticos é feita por meio de edital e as obras inscritas são avaliadas por especialistas de universidades públicas. Ainda segundo o ministério, não cabe a ele fazer um filtro nas obras selecionadas pelos especialistas para não se correr o risco de cometer uma decisão “política”. A assessoria do ministério afirmou que o debate (sobre a obra) é “fascinante”, “mas tem que se processar na academia”, pois o MEC não poderia, nesse caso, afirmar o que é certo e errado.

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