sexta-feira, maio 18, 2007

Sala de espelhos

Quando se fala em corrupção no Brasil, é como se estivéssemos dentro de uma sala de espelhos, com um lado refletindo o outro infinitamente. Não dá para saber de qual lado da sala está a imagem real e de que lado, a imagem virtual. Quem imita quem? A operação navalha, por exemplo, está sendo chamada pelos políticos de operação gilete: Corta dos dois lados. Atinge gente do governo e da oposição nos estados e municípios. Pegou o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares (PSB), arquiinimigo da família Sarney. Mas pegou também assessores do ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, apadrinhado do ex-presidente José Sarney. O caso mais curioso foi em Sergipe. Em fevereiro, o então presidente do Tribunal de Contas do estado (TCE), Carlos Alberto Sobral de Souza, anunciou que fez uma auditoria no órgão. Entre as irregularidades que diz ter encontrado na administração de seu antecessor, Hildergards Azevedo, acusou o superfaturamento na compra de computadores e diversos pagamentos antecipados sem a entrega posterior da mercadoria. Péssimo exemplo para um órgão que tem a missão de fiscalizar e dar parecer sobre as contas dos gestores públicos. Daí que foi nomeado para dirimir o caso outro conselheiro do TCE, Flávio Conceição. Pois bem, estourou ontem a operação navalha, a tal que bem poderia chamar-se operação gilete. E quem foi detido logo de manhãzinha pela Polícia Federal em Aracaju? Flávio Conceição. O homem que iria decidir se houve ou não corrupção no TCE! O conselheiro, que diz ter passado por uma cirurgia cardíaca na semana passada, já foi chefe da Casa Civil do governador anterior, João Alves Filho. É acusado de servir como elo de ligação entre o governo do estado e a empreiteira Gautama, pivô das falcatruas. Agora, imagine o Tribunal de Contas de Sergipe como aquela sala de espelhos. De que lado está a corrupção real e a virtual? O bandido e o inocente? O juiz e o acusado? Difícil saber.

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