quarta-feira, abril 02, 2008

Fim do duopólio:nova companhia promete balançar Gol e TAM

Um dos projetos empresariais mais arrojados do Brasil nos últimos anos está nascendo, quase escondido, em uma confortável casa que fica numa rua sem saída do bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo. Ali, David Neeleman, 48 anos, é ao mesmo tempo hóspede e anfitrião. O brasileiro que revolucionou a aviação americana há sete anos, ao fundar a companhia aérea americana Jet Blue – a pioneira no modelo de baixo custo nos Estados Unidos –, passeia no gramado da residência enquanto conversa com sua pequena turma de colaboradores. São apenas cinco: um piloto brasileiro que virou empresário do ramo hoteleiro, três funcionários da Jet Blue e o consultor de aviação Gianfranco Beting, o dono da casa e conhecido no meio aeronáutico por sua paixão quase doentia por aviões. Neeleman pára defronte a uma trave de futebol. “Quero fazer muitos gols no Brasil”, divaga. Neeleman repassa com Beting, designado para o cargo de diretor de marketing da futura empresa, as informações que serão transmitidas no dia seguinte. “Se esse cara manjar tanto de avião quanto parece, estou bem servido”, brinca o criador da Jet Blue, referindo-se ao próprio Beting. Mais piadas surgem quando o jornalista Joelmir Beting, pai de Gianfranco, aparece e entra na conversa. “Você, que entende de economia, me diz uma coisa: e esse dólar barato?”, pergunta Neeleman. “Já perdi milhões deles nos últimos dias. Pela primeira vez, uma empresa brasileira vai operar só com jatos da Embraer. Sua futura companhia aérea ainda não tem nome definido e deverá começar a funcionar somente em janeiro de 2009, mas sua ambição já tem números expressivos. Para início de conversa, encomendou 36 aeronaves Embraer 195, com capacidade para 118 passageiros, e tem opção de compra para outras 40. Considerando todas as aeronaves envolvidas no projeto, o valor da aquisição pode chegar a US$ 3 bilhões. O modelo de negócios será inspirado, evidentemente, no da própria Jet Blue – custos baixíssimos que permitem à companhia cobrar valores menores pela tarifa aérea. Com essa estratégia, a Jet Blue fez barulho nos Estados Unidos. Em sete anos de existência, ela se tornou a oitava maior companhia aérea americana. Parece pouco, mas é muito. Nos Estados Unidos, o mercado atrai algo como 800 milhões de passageiros por ano, o que dá a dimensão do tamanho da concorrência que uma nova companhia tem de enfrentar. No Brasil, eles não chegam a 50 milhões. As primeiras notícias do sobrevôo de Neeleman ao Brasil foram suficientes para agitar o mercado. Dos hangares da Gol (que controla também a Varig) e da TAM partiram declarações de que a nova concorrente não preocupa -- afinal, ela atuará com aviões menores e deverá priorizar cidades que não contam com uma boa cobertura das líderes do mercado. Coincidentemente, porém, ambas lançaram promoções ousadas em suas tarifas. “A entrada de uma companhia com histórico de sucesso nos Estados Unidos obviamente provocará um impacto em todo o setor, e de alguma forma atingirá os que estão no topo”, diz o empresário Ozires Silva, com a autoridade de quem presidiu a Varig e foi um dos idealizadores da própria Embraer. A estratégia da nova companhia começa pela configuração das aeronaves que foram encomendadas. O menor avião da Gol em operação no Brasil é o Boeing 737-300, para 141 passageiros. Na TAM, é o A319, para 144 pessoas. Os Embraer 195 adquiridos por Neeleman foram originalmente concebidos para 122 lugares, mas serão adaptados para voar com 118. “Isso garantirá mais conforto, um aspecto que, segundo pesquisas que fizemos, preocupa muito os brasileiros que voam com regularidade”, diz Neeleman, que promete até telas individuais de TV nos assentos, com transmissões ao vivo durante os vôos. Sua meta é voar para 25 destinos. O nome das cidades é mantido sob sigilo, mas sabe-se que a prioridade são centros urbanos com força econômica e não necessariamente grandes capitais. “Isso não significa que esqueceremos São Paulo ou Rio”, diz.

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