quarta-feira, março 23, 2011

Senado faz conselho de 'ética' com réus e suspeitos


Lula Marques/Folha
Sem alarde, o Senado começou a compor um “novo” Conselho de Ética. Quatro partidos já fizeram suas indicações.A lista inclui senadores cujas biografias, por ecléticas, ornam mais com a condição de investigados do que com a de investigadores de desvios éticos.O PMDB acomodou no conselho que tem a missão de julgar as afrontas à ética e ao decoro parlamentar quatro nomes.Um deles é Romero Jucá (RR). Líder de FHC, de Lula e, agora, de Dilma Rousseff, Jucá responde a três inquéritos no STF.Sob Lula, a despeito do histórico conturbado, Jucá tornou-se ministro da Previdência.Pendurado nas manchetes em posição incômoda, viu-se compelido a deixar a pasta em 2005.A notícia mais amena apresentava Jucá como titular de empréstimos no Banco da Banco da Amazônia que tinham como garantia fazendas fantasmas.Outro indicado do PMDB para o Conselho de Ética é –espanto, escárnio, estupefação!— Renan Calheiros (AL).Em 2007, foi acusado de receber dinheiro de um diretor de empreiteira para sustentar o filho que tivera com uma ex-amante.Ao tentar justificar-se, virou suspeito de simular negócios com gado para lavar dinheiro.Foi acusado também de usar laranjas para comprar rádios e um jornal. Renunciou à presidência do Senado.Levado a “julgamento” no plenário do Senado, perderia o mandato se 41 de seus colegas o considerassem culpado.Livrou-se da cassação por um voto: 35 senadors o consideraram inocente, 40 tacharam-no de culpado. Seis abstiveram-se.Os outros dois representantes do PMDB no "novo" Conselho de “Ética” são Gilvam Borges (AP) e João Alberto (MA).Foram ao colegiado não pelos pendores éticos, mas pela fidelidade canina que devotam ao tetrapresidente do Senado, José Saney (AP).O mesmo Sarney que, acossado por denúncias, celebrou o arquivamento de uma dezena de representações no Conselho de “Ética”.Dono de uma vaga no colegiado, o PTB preencheu a cadeira com seu líder no Senado, Gim Argello (DF).Suplente de Joaquim Roriz, que renunciou ao mandato para fugir de uma cassação dada como certa, Gim coleciona 38 processos por crimes eleitorais.É investigado por corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação de tributos e apropriação indébita.No ano passado, guindado à posição de relator do Orçamento da União, Gim renunciou ao posto depois de virar protagonista de um escândalo novo.Descobriu-se que acomodara no Orçameto da pasta do Turismo emendas que destinavam verbas a entidades fantasmas.O PSDB levou ao Conselho de “Ética” dois titulares: os senadores Mário Couto (PA) e Paulo Bauer (SC). O PP indicou Ciro Nogueira (PI).Pelo regimento, o conselho precisa ter 15 membros efetivos. Ou seja: os outros partidos terão de indicar mais sete senadores.Considerando-se as indicações já efetivadas, pode-se intuir que o Senado empossado em 2011 é capaz de tudo, menos de se autoinvestigar. Punições? Esqueça. (blog do Josias de Souza).

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