O professor Paulo Roberto da Costa Kramer, que dá aulas no curso de mestrado em ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB), foi considerado culpado pela comissão que apurou supostas condutas irregulares do professor durante aulas no ano passado. O professor foi acusado de práticas de racismo pelo estudante Gustavo Amora, 25, que é negro e aluno do curso.Kramer foi condenado administrativamente a 30 dias de suspensão a partir do dia 2 de julho, mas a pena foi convertida no pagamento de multa de 50% do seu salário - que é de R$ 3.500, segundo o professor. De acordo com a assessoria de imprensa da UnB, o desconto do valor da multa será feito na folha de pagamento em uma única parcela. Ainda cabe recurso administrativo. É a primeira vez que uma discussão sobre racismo termina em condenação administrativa na universidade. Mas, segundo a assessoria de imprensa da UnB, o professor não foi condenado pelo crime de racismo e sim por ter mantido conduta incompatível com o cargo, pois a comissão processante não tem competência para apurar crimes.A decisão de suspender o professor foi publicada pelo reitor Timothy Mulholland no dia 29 de junho. Ele também acatou o parecer da comissão, que sugeriu encaminhar o caso para o Ministério Público do Distrito Federal, que deverá investigar o crime de racismo. O professor Kramer afirmou que vai entrar com um mandado de segurança na Justiça comum pedindo a anulação do processo administrativo que correu na UnB. Segundo ele, há várias falhas na apuração. "A comissão ouviu os meus acusadores como testemunhas. Isso é uma flagrante falha processual. Testemunha é uma coisa e acusador é outra coisa", disse, afirmando que vai brigar até o fim para anular a decisão na Justiça.Kramer disse que em nenhum momento foi informado pela universidade da decisão, que ele soube através da imprensa. "É uma descortesia muito grande com quem tem mais de 20 anos de magistério só na UnB", disse.O professor afirmou não ser racista. "Não sou racista de jeito nenhum. Aliás, pelo contrário. O meu maior orgulho são vários estudantes de origem africana que eu tive o prazer de orientar e que hoje estão muito bem", disse. Kramer acrescentou que após saber da suspensão, recebeu apoio de vários alunos e amigos. "Eles se ofereceram para fazer vaquinha para me ajudar a pagar a multa, mas eu não aceitei porque vou anular esse processo na Justiça", afirmou.No ano passado, no primeiro dia de aula, ao fazer referência aos programas de assistência às famílias negras dos Estados Unidos, o professor Kramer se referiu aos negros como "crioulada". Um grupo de nove alunos - sete deles brancos - não gostou da atitude do professor e um deles - Gustavo Amora - resolveu escrever para o professor dizendo ter ficado incomodado com a situação. Por e-mail, o professor chegou a se desculpar.Dias depois, houve uma nova discussão em sala. Os alunos levaram gravadores e durante a aula disseram que o professor era racista. Segundo as investigações, o professor teria reagido dizendo frases como "Racista o cacete"; " membros da Ku Klux Klan negra" e "Vou falar crioulada quantas vezes quiser, nem que eu seja obrigado a impetrar um mandado de segurança".Com as declarações gravadas, Amora e os outros colegas levaram o caso até a reitoria da universidade, pedindo investigação e a punição do professor. Hoje, um ano depois, ele e os colegas de classe comemoram a vitória. "A decisão é inédita e mostrou para as pessoas que nos acusaram de oportunismo que estávamos certos. Depois que fizemos a acusação, sofremos muita pressão na universidade e ficamos com medo de isso prejudicar as aulas do mestrado. Foi muito difícil", disse.
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