quarta-feira, julho 01, 2009

Seguro perto do impossível

No mundo inteiro, as pessoas convivem com intempéries, assaltos, pragas, violência, doenças, acidentes de carro e risco de morte. Em alguns países, os cidadãos têm renda para bancarem seguros que cobrem boa parte disso, o que garante certa tranquilidade. Entretanto, para os padrões brasileiros, viver seguro custa muito caro. Fazer um pacote completo com seguros de vida, saúde, veículos e residência, incluindo proteção contra roubo, pode custar exatos R$ 12.936 ao ano para uma família de classe média alta, ou R$ 1.078 divididos em 12 vezes. Para se ter uma ideia de quanto isso representa, seria possível realizar o sonho da casa própria comprando um imóvel de R$ 258 mil em prestações pagas ao longo de 20 anos. Por causa de contas como essa, muitos brasileiros evitam seguros. Nas estradas, a insegurança dá as cartas, mas sete a cada 10 motoristas contam com a sorte, e 90% dos caminhões rodam sem garantia das seguradoras. Apesar de o acesso eficiente à saúde ser um sonho para milhões de pessoas, o percentual da população que contrata o serviço não ultrapassa 25%. Estima-se ainda que menos de 5% dos lares brasileiros contam com o seguro residencial. Nas lavouras, mais de 95% não contratam o seguro rural. No ano passado, o mercado de seguros movimentou R$ 67 bilhões no país, correspondendo a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Parece um percentual significativo, mas não chega perto da média de países como Estados Unidos (9%), Japão (10%) e Reino Unido (15%). Por questão cultural ou financeira, o brasileiro médio ainda não compra segurança. Com as sobras do salário, ele adquire, no máximo, bens e serviços que possa pagar a prestação e considere essenciais, como planos de saúde ou seguros funerários. O brasileiro está muito exposto a riscos, seja porque não pode pagar pelo seguro ou porque não acredita no produto. Culturalmente, ele não tem a mentalidade de proteger a si, aos que o cercam e aos seus bens, afirma a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Seguros de Vida, Saúde Suplementar e Capitalização. Os cálculos que chegaram aos R$ 12.936 no ano foram feitos por Samuel Lichter, da Lichter Corretora de Seguros, para atender uma família de classe média alta, com idade média de 40 anos para o marido e 36 anos para a mulher, dois filhos menores e dois carros zero quilômetro (um Pálio e um Corolla). Os preços podem variar para menos ou para mais, dependendo da idade dos titulares e dos carros, locais onde moram e condições exigidas. Se o titular for fumante, o valor do seguro de vida aumenta. A idade dos pais também poderá encarecer o plano de saúde, compara o corretor , há 40 anos no mercado. Nem todo brasileiro está disposto a desembolsar R$ 1 mil por mês em apólices. Na realidade, isso está longe de ocorrer. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, apenas 12,6 milhões recebem pelo menos R$ 1.660 por mês. Essa minoria (8,9% da população) teria que gastar, todo mês, 60% da renda só com o pagamento de seguros. Para o brasileiro, embora o seguro seja importante, ainda não é essencial. Sua renda média não permite incluir um item destinado à proteção da sua família e do seu patrimônio. Ele prefere acreditar ter sido vítima de um infortúnio, diz a Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg). Na família do farmacêutico Bernardo Rocha, por exemplo, nenhum dos quatro carros é segurado. Como os automóveis têm acima de cinco anos de uso, a opção é contar com a sorte. A decisão dele foi calculada na ponta do lápis, e tem como motivo o custo da apólice, em média 7% do valor do veículo. O seguro que deixei de fazer já pagou duas vezes o carro, fabricado em 1988, explica. A conta do farmacêutico é a mesma de um arquiteto. Aos 70 anos, ele teve uma média de dois veículos por ano nos últimos 40 anos. Nunca fez seguro e sempre teve sorte. Com correção monetária, minha economia é de R$ 200 mil. É claro que alguma coisa pode acontecer, mas deixei de gastar um bom dinheiro, calcula. Ninguém aguenta pagar R$ 70 mil pelo seguro de um caminhão, protesta um dos presidentes regionais do Movimento União Brasil Caminhoneiro. Segundo ele, o transportador que tem 10 caminhões, a cada ano ganha um novo deixando de fazer o seguro. Em vez de pagar de 8% a 16% sobre o valor do veículo, o caminhoneiro prefere se juntar a uma cooperativa, pagando mensalidades. Quando acontece uma batida ou um furto, a gente rateia o prejuízo, diz. O governo federal vem tentando introduzir a cultura do seguro agrícola no Brasil, subvencionando até 75% do valor da apólice. A grande maioria dos agricultores, porém, continua plantando sem garantias. No Triângulo Mineiro, 99% dos agricultores não contratam seguro, diz o Sindicato Rural de Uberaba. No caso da soja, o seguro chega a 4,3% do valor total da lavoura, no do milho atinge 4,5%. O seguro agrícola é limitado a R$ 96 mil ano, um valor baixo para a agricultura comercial. No caso da soja, por exemplo, seriam cerca de 19 sacas por hectare quando a produção pode ser três vezes maior que o valor. Em todo o país, são cerca de 4,5 milhões de agricultores. Estima-se que cerca de 1 milhão poderia proteger a lavoura, mas no máximo 7%, ou 70 mil produtores, contratam a modalidade. A Companhia de Seguros Aliança do Brasil,lembra que a sinistralidade histórica do agronegócio chega a 78%. Em um ano, o produtor ganha muito, no outro pode perder tudo. Nos Estados Unidos 75% dos agricultores têm seguro. Há 24 anos plantando lavouras, um agricultor cultiva milho, soja e feijão, em Paracatu (MG), a 233 quilômetros de Brasília. A lavoura é financiada com recursos próprios e, depois que o agricultor introduziu a irrigação, conseguiu eliminar o seu maior risco: a seca. As perdas enfrentadas nos últimos anos foram parciais e os prejuízos, absorvidos pelo produtor. Pelo que sei, o seguro ainda não compensa. Como as margens de lucro estão muito apertadas e o risco existe, seria interessante se não fosse tão caro, avalia. Ele lembra, entretanto, que na década de 1980, perdeu uma lavoura inteira de arroz e reduziu as perdas, porque tinha um seguro incluído no financiamento do banco. Ronseg, corretora de seguros (69) 3222-0742.

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