segunda-feira, julho 13, 2009

Senador anula 'atos secretos' que ele dizia inexistentes

A cena ainda não aconteceu. Mas, no universo fantástico do Senado, não é desarrazoado que venha a ocorrer. Aconteceria assim: Mesa do Senado reunida, sob a presidência de Sarney. Súbito, um assessor fantasma, nomeado por ato secreto, salta de dentro da parede.Atônitos, os membros da mesa observam o lençol branco que paira acima dos escândalos. O assessor secreto, voz grave, comunica a Sarney:“Presidente, a descarga não está funcionando!”Sarney é protagonista de uma presidência de realismo fantástico. Do tipo em que o irreal é cotidiano e o estranho é comum.Como que decidido a evitar o que já ganhou contornos de inevitável, Sarney anunciou nesta segunda (13) uma decisão que se esquivava de adotar.Mandou anular todos os 663 atos secretos editados no Senado nos 14 anos da era Agaciel Maia. Repetindo: todos!Sarney fez mais: determinou ao diretor-geral Haroldo Tajra que apresente, em 30 dias, um plano de recuperação dos pagamentos feitos indevidamente.Curioso, muito curioso, curiosíssimo. Há duas semanas, discusando da tribuna, Sarney dissera: “Não sei o que é ato secreto. Aqui ninguém sabe o que é ato secreto!” De repente, manda anular o que dizia inexistir.Recém-nomeado, o diretor-geral Haroldo Tajra não se atrevera a negar o inegável. Mas via os atos secretos como peças não anuláveis. Dizia que “99%” serviram para nomear ou exonerar pessoas. Gente que, no dizer dele, prestara serviços ao Senado.Agora, além de digerir a anulação do que supunha definitivo, Tajra terá de trazer de volta as verbas arrancadas da bolsa da Viúva, veneranda e indefesa senhora.Deve-se o aparente despertar de Sarney ao Ministério Público, que endereçou ao pseudopresidente do Senado um ofício.No texto, procuradores aconselharam a anulação dos atos clandestinos. Depois, acionaram a Polícia Federal para investigar o absurdo.Diante do cheiro de queimado, Sarney foi como que arrancado da letargia. Tenta livrar-se da aparência de personagem de Gabriel García Márquez.Parece fugir da frase fatídica: “Presidente, a descarga não está funcionando!”(JS). Ronseg, corretora de seguros (69) 3222-0742.

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