Seis dos principais centros comerciais da cidade investiram pesado no último ano para atrair um novo tipo de público. Somados os valores, foram quase R$ 50 milhões em reformas, ampliações ou construção de áreas voltadas para a alta gastronomia. Com o novo conceito, os estabelecimentos esperam alcançar um público mais elitizado e, claro, aumentar o fluxo nos corredores e nas lojas.A estratégia dos shoppings permitiu a abertura de 15 restaurantes nesse período, todos pertencentes a redes nacionais — a maioria de São Paulo — e 11 deles inéditos em Brasília, segundo levantamento feito. A inauguração das casas criou cerca de 300 empregos. A cultura do fast-food não deve desaparecer das praças de alimentação, mas a tendência é que ela cada vez mais tenha de dividir espaço com opções sofisticadas de culinária.
Felipe Gravina, sócio de um dos restaurantes: R$ 900 mil investidos |
O ParkShopping foi o que apostou mais alto na ideia de praça de luxo. A administradora do centro comercial, criou uma área de 3,6 mil metros quadrados para abrigar cinco renomados restaurantes, abertos ao público na última quinta-feira. “Temos certeza de que o investimento será bem-sucedido”, afirma o superintendente do centro de compras.As obras de duas torres para escritórios no terreno do shopping, cada uma com seis andares, e o surgimento de um setor residencial nas redondezas chamaram a atenção do restaurante carioca Antiquarius Grill (comida portuguesa) e dos paulistas Barbacoa (carnes), La Tambouille (cozinha franco-italiana) e The Fifties (hamburgueria), além do bistrô francês Le Vin. Não se descarta a possibilidade de nova expansão nos próximos anos.O Brasília Shopping fez uma troca ousada: abriu mão de quatro salas de cinema para dar lugar a quatro restaurantes. A mudança, que completa um ano em dezembro, custou R$ 3,5 milhões. “Foi uma decisão acertada. O movimento em todo o shopping aumentou”, conta o superintendente. Somente a filial do grupo cearense Coco Bambu tem capacidade para 500 clientes e fila de espera é algo corriqueiro, principalmente na hora do almoço.No lugar onde antes funcionava a entrada do cinema, a franquia Zack’s inaugurou a primeira unidade fora do Rio de Janeiro, com 130 metros quadrados e 36 funcionários. O sócio-proprietário prevê três anos para o retorno do investimento de R$ 900 mil. Por dia, 190 pessoas passam pelo restaurante. Cada uma gasta, em média, R$ 35. “Atraímos quem prefere pagar um pouco mais pela refeição, mas faz questão de conforto”, afirma.
Badalados
A força da marca Iguatemi conseguiu atrair para Brasília o badalado restaurante Gero, do Grupo Fasano, em funcionamento há exatamente um ano. O térreo do shopping abriga ainda o Pobre Juan, especialista em parrilla argentina, o Galeto’s e a rede americana Outback. No primeiro piso, mais 12 opções gastronômicas. “Numa concepção antiga de praça de alimentação, não teríamos cadeiras acolchoadas e minitelevisões”, diz a gerente-geral.O Terraço Shopping foi inaugurado em 2002, com seis restaurantes. Até dezembro, esse número será quatro vezes maior, com a abertura de mais uma unidade do Mercado 153. A rede pernambucana investiu R$ 3 milhões no último ano em Brasília, com três restaurantes em shoppings. “A praça de alimentação deixou de ser um local para a pessoa comer e ir embora”, diz o superintendente do Terraço. O shopping desembolsou R$ 2 milhões na reforma da praça, concluída em junho.De olho no avanço da tendência gourmet, até mesmo shoppings de fora do Plano Piloto estão investindo no segmento. O Taguatinga Shopping aplicou R$ 500 mil este ano em obras nos banheiros, no piso, na iluminação e no mobiliário da praça de alimentação. A quantidade de restaurantes saltou de 28 para 40 desde novembro de 2000, quando o centro comercial abriu as portas. A aposta na ala gastronômica, explica a superintendente, também faz parte da estratégia para fisgar os frequentadores das torres comerciais do shopping e os moradores da vizinha Águas Claras.
Eu acho...
“Para mim, refeição é momento de paz, de calma. É ótimo ver que os shoppings se atentaram a isso. Aliás, hoje em Brasília há muitos bons restaurantes que só estão em shoppings. Você paga mais do que em um fast-food, mas vale muito a pena.”
Léia Cristina Borges,
35 anos, advogada, moradora do Guará
“O barulho da praça de alimentação me incomoda muito. Lugares onde você possa sentar, pedir o cardápio, chamar o garçom tornam o almoço ou o jantar mais tranquilo, mais demorado, além de permitir uma maior privacidade.”
Maria Stela Miglorancia, 31 anos, advogada,
moradora do Sudoeste
“Às vezes você tem um dia estressado no trabalho e quer ter mais tranquilidade na hora de comer, coisa que não se encontra nas praças de alimentação habituais. É bom que os shoppings tenham percebido isso, mas ainda são poucas as opções.”
Alexandre Pereira,
41 anos, analista de sistemas, morador do Lago
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