domingo, novembro 06, 2011

Oriovisto Guimarães faz sucessão no Positivo

O empresário Oriovisto Guimarães, 66 anos, fundador do grupo educacional e de tecnologia paranaense Positivo, diz que os presidentes assumem vários estilos quando estão prestes a deixar a cadeira em que ficaram sentados por muito tempo. Um deles é o tipo general. “Ele entrega o comando, vai para fora, reúne forças, volta e retoma o poder”, diz o professor Oriovisto, como é conhecido, por ter lecionado matemática no começo de sua carreira.Outro é o hippie, que vira as costas e desaparece. Existe também o gênero monarca, que só sai no caixão. “E tem aquele que faz a coisa certa, convive com a nova geração e passa os valores da empresa”, afirma o empresário, um ex-comunista, preso no congresso estudantil de Ibiúna (SP) em 1968. “Ele sai devagar, de forma que sua ausência não seja um baque.” É dessa forma que o professor  Oriovisto Guimarães acredita estar tratando o tema de sucessão no Positivo, fundado por ele e mais sete colegas como um cursinho pré-vestibular, em Curitiba, em 1972.
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Nem general nem hippie: o professor Oriovisto Guimarães está pouco a pouco se desligando
de suas funções do grupo educacional Positivo, que faturou R$ 3,4 bilhões em 2010
Em 2008, o professor Oriovisto e seus atuais quatro sócios, cada um com 20%, começaram a debater a sucessão no grupo, um conglomerado que faturou R$ 3,4 bilhões em 2010, emprega 10,3 mil funcionários e atua em três segmentos: educacional, gráfico-editorial e de informática. Um ano depois, Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática, foi escolhido para sentar em sua cadeira, em uma data ainda não definida. “Como a troca de comando está sendo feita de forma planejada, estou tendo tempo para aprender sobre os pontos fortes e fracos de cada uma das áreas”, afirma Rotenberg. Como parte da transferência do bastão, ele já participa das reuniões do conselho e vai dividir seu tempo, quando assumir, entre a presidência do grupo e o comando da Positivo Informática. A missão de Rotenberg à frente do grupo não será das mais fáceis.  Ele terá de substituir um empreendedor carismático que se transformou na cara do grupo nestes quase 40 anos de existência. “Meu pai tem um estilo participativo, mas muito austero”, diz Giem Guimarães, presidente da gráfica Posigraf, filho mais velho de Oriovisto. O empresário é dono também de uma objetividade desconcertante. Um executivo que fez negócios com o grupo Positivo lembra disso com muita clareza. “Se você não expuser o seu projeto em dez minutos, não perca tempo comigo”, disse o professor Oriovisto ao interlocutor. Ele conseguiu se explicar em pouco tempo e ganhou o contrato com o grupo. Disciplina e foco são as palavras que melhor definem o estilo de gestão de Oriovisto. Foi assim que ele construiu o Positivo, que antes de tudo é um grupo de educação. Seus negócios, de uma forma ou de outra, têm a ver com essa área. A diversificação do grupo surgiu ao acaso, da necessidade de complementar a atividade principal. Em razão das aulas de cursinho, por exemplo, foi preciso construir uma pequena gráfica para imprimir as apostilas. Hoje, a Posigraf é a maior do Brasil e deve faturar R$ 322 milhões em 2011. Como o material didático era personalizado, o Positivo começou receber propostas para vendê-lo a outras escolas. “Éramos muito bobinhos, demoramos um ano para tomar essa decisão”, afirma o professor.Pouco tempo depois, não foi difícil perceber que era mais compensador ganhar dinheiro vendendo material educacional do que com as próprias escolas. Surgia ali o sistema de ensino, atualmente o maior do Brasil em números de estudantes, à frente de Pearson, Abril Educação, Objetivo e Kroton. Hoje, o Positivo vende os livros, que são produzidos pela editora própria, para um milhão de alunos, entre escolas privadas e públicas. O nascimento da Positivo Informática também obedeceu a essa lógica. Por conta da dificuldade de importar computadores, Oriovisto passou a produzir as próprias máquinas, usadas na Faculdade de Informática, dirigida por Rotenberg. 

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O sucessor: Hélio Rotenberg, que dirige a Positivo Informática, vai assumir o comando do grupo.
Ele já participa das reuniões do conselho e debate os pontos fortes e fracos do Positivo

A companhia, atualmente, é a maior fabricante de PCs do Brasil. “Essas sinergias são o grande diferencial do Positivo”, afirma Ryon Braga, presidente da consultoria educacional Hoper, de Foz do Iguaçu (PR). Desde que tomou a decisão de retirar-se do comando do grupo, o professor Oriovisto tem pouco a pouco tentado “desencarnar” de sua função. Em março de 2010, ele desligou-se do cargo de reitor da Universidade Positivo. “Pensei que ele estaria por aqui com mais frequência”, diz José Pio Martins, atual reitor. “Mas ele sumiu.” Ao novo comandante da universidade, fez apenas uma recomendação. “Seja um bom reitor.” Ainda não há uma data para sua aposentadoria. Pessoas próximas ao empresário acreditam que ele está se preparando para deixar o comando em 2013. Atualmente, Oriovisto atua como presidente do grupo e do conselho da Positivo Informática, que tem ações negociadas na bolsa. Quem conhecia sua rotina já diz que ele desacelerou bastante. “É normal ele fazer isso”, diz Lucas Guimarães, vice-presidente do grupo e seu filho do meio – Sofia, a filha mais nova de Oriovisto, não trabalha na empresa. “Ele já tem outros empreendimentos que estão caminhando.” Entre eles, a OG Administração, do ramo imobiliário. O professor Oriovisto, atualmente, passa de três a quatro meses por ano em Miami, nos Estados Unidos, onde tem um apartamento. “É para fugir do frio de Curitiba”, diz ele. Seus hobbies são os vinhos e a leitura, principalmente de textos de filósofos gregos. Uma visita à Grécia, no entanto, condenou o primeiro projeto do Teatro Positivo, com 2,4 mil lugares, o maior de Curitiba. Todo o trabalho teve de ser refeito para que ele ficasse igual ao Teatro de Epidauro. Ele só não gosta de ser comparado ao personagem da mitologia grega Midas, aquele que transformava tudo o que tocava em ouro. “Já fiz muita coisa que não deu certo”, afirma. “Comprei rádios e tevês e tive de vender.

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