sexta-feira, junho 15, 2012

Festas dos Quilombos em Brasília






Glória Moura lança livro no próximo dia 19 sobre as tradições dos quilombos existentes no Brasil e a vida nessas comunidades






Há mais de 3.500 comunidades quilombolas identificadas no Brasil. Espalhadas por todas as regiões do país, principalmente em áreas rurais, essas comunidades negras abrigam há séculos descendentes de escravos. O que os unem e fortalecem são as tradições culturais. A professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília Glória Moura pesquisou, durante 30 anos, a cultura quilombola. Esse trabalho deu origem ao livro "Festas dos Quilombos", publicado pela Editora da UnB, que a professora lança nesta terça-feira, 19 de junho, em Brasília, no espaço Carpe Diem (104 Sul), às 19h.
A professora diz que as festividades tradicionais da comunidade reafirmam a identidade étnico-racial de origem africana de cada um dos moradores "dessas terras de preto”. Ela apresenta, na obra, elementos do forte sincretismo que caracteriza esses grupos. “Os quilombolas misturam a cultura africana com a portuguesa. As danças tradicionais da África são entrelaçadas com a reza do terço católico", comenta.
O livro relata, por meio de entrevistas, depoimentos e fotografias, a história e o cotidiano dos quilombos Santa Rosa dos Pretos. no Maranhão, Mato do Tição, em Minas Gerais, e Aguapé, no Rio Grando do Sul. “Todas as comunidades enfrentam o mesmo problema: a propriedade das terras”, destacou a autora. “Essa situação é um drama sério. Apesar de estarem ocupando a área há séculos, eles não têm a posse formal. Os fazendeiros invadem sempre os quilombos, botam fogo e matam os moradores. Em Santa Rosa dos Pretos, 66 pais de família foram mortos por jagunços”, contou.
Segundo a professora, muitas terras ocupadas por quilombos são remanescentes da resistência no período da escravatura, algumas foram os próprios escravos alforriados que se juntaram e compraram, outras doadas pela minoria de fazendeiros que colaboraram com os negros que também contaram com a ajuda da igreja no período da Abolição.
LEGALIDADE - O decreto presidencial 4.887, de 2003, garante o direito dos quilombolas de permanecer onde estão. No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) irá julgar, ainda sem data marcada, Ação de Inconstitucionalidade ajuizada pelo Partido Democratas contra o decreto. “Esse direito precisa ser mantido. Os quilombolas criaram raízes onde estão, são nessas terras que eles plantam, vivem e morrem há várias gerações”, disse.
Desde que iniciou suas pesquisas sobre o tema, a professora já produziu um documentário filmado no quilombo Santa Rosa dos Pretos e um CD chamado Mosaico Musical dos Quilombos. O livro “Festas dos Quilombos” é mais um resultado dessa dedicação ao tema. Segundo Glória, o que a fez se interessar tanto pelo assunto foi a forma como os quilombolas lidam com a vida. “Nos quilombos ninguém tem vergonha de ser o que é. Eles enfrentam preconceitos e possuem muitas dificuldades, mas nunca deixam de festejar e comemorar. A alegria deles me contagiou”, concluiu.

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