A descoberta de que o Senado manteve por 14 anos uma burocracia secreta para distribuir favores a um pequeno grupo levou José Sarney às cordas.Entronizado em sua terceira presidência há quatro meses e meio, o morubixaba do PMDB encontra-se acuado.Nesta segunda (15), a palavra “renúncia” foi ouvida pela primeira vez no Senado. Pronunciou-a, em privado, o gaúcho Pedro Simon.Dissidente do PMDB, o partido de Sarney, Simon vem soando entre quatro paredes sempre um tom acima das manifestações que se permite fazer em público. Acossado pela crise, Sarney ruminou seus rancores ao longo do final de semana. Nesta segunda, trancafiou-se no gabinete da presidência. Atendeu a uns poucos telefonemas. E se reuniu com dois aliados de todas as horas: os líderes Renan Calheiros (PMDB) e Gim Argelo (PTB). Aconselharam-no a se defender atacando. Renan pôs para rodar o hardware ao qual sempre recorre quando se vê em apuros. Primeiro, identifica os inimigos: PT e PSDB.Na sequência, esboça uma reação que se escora em dois pilares: o ataque e a chantagem. Ameaça vazar para os jornais dados que constranjam os rivais.Nas últimas semanas, Sarney dissera a amigos que estava arrependido de ter disputado a presidência do Senado com o petista Tião Viana.Chegara mesmo a confidenciar a intenção de renunciar ao cargo em 2010, quando fará 80 anos. Depois da conversa com Renan e Argelo, Sarney mudou o rumo da prosa.Agora, diz que vai à luta. Cogita ler no plenário uma resposta às denúncias que o lançaram no caldeirão dos malfeitos secretos do Senado. Fala em modificar as regras daqui pra frente. Punições? Por ora, só cogita levar à bandeja a cabeça de José Grazineo, o sucessor de Agaciel Maia na direção-geral.Caberá a Renan e Argelo executar o pedaço sujo da estratégia, que envolve o recurso à baixaria e à chantagem. Na outra ponta, o grãotucano Tasso Jereissati organiza uma reunião suprapartidária. Fará um almoço nesta quarta (17).Está convidando os senadores que, a seu juízo, têm disposição para confontar as mazelas que roem o prestígio do Senado.Gente como Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, Tião Viana, Cristovam Buarque, Renato Casagrande, Demóstenes Torres, Sérgio Guerra e Arthur Virgílio. Tasso é velho amigo de Sarney. A despeito disso, participou, em fevereiro, da articulação que acomodou a maioria dos votos tucanos no colo de Tião Viana.Nas pegadas do triunfo de Sarney, Tasso foi à presença do amigo. Levou consigo Sérgio Guerra, presidente do PSDB.Os dois aconselharam Sarney a esquecer as rugas da campanha, uma das mais encarniçadas da história. Pediram que “governasse” para todo o Senado.Hoje, Tasso se diz “decepcionado”. Acha que Sarney tornou-se “prisioneiro” das vontades de Renan. A idéia da reunião-almoço dos senadores que Renan identifica como “inimigos” foi urdida na noite de sexta (12).Deu-se em Pernambuco, numa festa junina oferecida por Sérgio Guerra. Entre os mais de mil convidados, havia 12 senadores. Acomodados na mesma mesa, Tasso e Jarbas Vasconcelos trocaram idéias sobre a encrenca do Senado. Concluíram que o caso dos atos administrativos secretos levara a crise às fronteiras do paroxismo. Tasso mencionou a idéia de promover o encontro. Jarbas pôs-se de acordo.“É preciso encontrar saídas”, disse Jarbas ao blog. “A gente pode ficar assistindo ao derretimento do Senado sem fazer nada”.Para Jarbas, quem preside o Senado é Renan, não Sarney. “O Renan tem, hoje, mais poderes do que na época em que foi presidente...”“...Renan lidera a bancada do PMDB, cerca de 16 senadores, tirando os dissidentes, e mais a bancada do PTB. O Sarney é refém do Renan”.Nesta terça (16), o alarido que toma conta do Senado começará a ser içado dos subterrâneos para a tribuna. Pelo menos três senadores planejam remexer o monturo dos atos secretos em discursos no plenário: o próprio Jarbas, Tião Viana e Arthur Virgílio.A tropa da dupla Renan-Argelo promete intervir no debate. Algo que deve elevar uma temperatura que, no dizer de Virgílio, tem sido demasiado “amena”.O líder Virgílio acusa colegas vistos pregoeiros da ética se “acocorar” diante da ameaça de abertura do baú de favores do ex-diretor-geral Agaciel Maia.Uma divisão da tropa oposicionista favorece Sarney. José Agripino Maia, líder do DEM, não foi convidado para a reunião organizada por Tasso. Consideram-no ligado demais a Renan e Sarney.Privadamente, Agripino diz que a reunião produzirá barulho, não soluções. Ele pretende se reunir com Sarney. Acha que a crise exige “providências” que culminem com “punições”. Aconselhará Sarney a demitir a parentela pendurada secretamente na folha do Senado.Contabilizados inicialmente em 300, os atos secretos saltaram para 500. Agora, diz-se que passam de mil.Sacudindo-se os papéis, foram ao solo três frutos da árvore genealógica dos Sarney e dos Macieira, o tronco familiar de Marly, a mulher do presidente do Senado. Reside aí o ponto fraco da pregação de Renan. A lista dos malfeitos não é obra de petistas e tucanos. Foi encomendada pelo primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM). Ronseg, corretora de seguros (69) 3222-0742.
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