segunda-feira, julho 02, 2012

Demóstenes diz carregar grilhões do isolamento













Como previsto pelo blog, Demóstenes Torres iniciou nesta segunda (2) a série de discursos diários que pretende fazer diariamente até o julgamento marcado para 11 de julho. No pronunciamento inaugural, o senador apresentou-se como vítima de injustiças e repetiu que não teve negócios com Carlinhos Cachoeira.



Foi a primeira vez que Demóstenes escalou a tribuna desde 6 de março, quando falara pela primeira vez sobre as denúncias que lhe tisnaram a biografia. Naquele dia, sua proximidade proximidade com Cachoeira havia sido apenas insinuada nas manchetes. Soaram nos microfones 44 apartes. Os colegas solidarizaram-se com o acusado, manifestando apreço e confiança na retidão dele.



Desde então, o relacionamento com Cachoeira revelou-se mais íntimo e profundo do que a fama de Demóstenes permitia supor. Neste 2 de julho, o orador pediu “perdão” aos aparteantes de 6 de março. Nominou os 44. Um a um, numa verdadeira cachoeira de escusas.



“Peço perdão pelos constrangimentos que povertura causei, sobretudo aos que tiveram a gentileza de me apartear no discurso de 6 de março. Quem está aqui hoje é o mesmo homem daquele dia: envergonhado, abatido, deprimido, cansado e esgotado, mas que sente a injustiça lhe corroer o peito. E é de peito aberto que volto aqui, pedindo perdão pelos erros e compreensão para impedir que a injustiça se torne irreparável.”



A despeito do pedido de perdão, Demóstenes declarou: “Não me pesa a consciência. Ela continua limpa. O que pesa é carregar, pelo isolamento dos corredores, os grilhões impostos pelos holofotes”. Submetido a um pedido de cassação aprovado por 15 a zero no conselho de Ética, o senador sustentou que nada fez para merecer os ataques à sua honra. Referindo-se a Cachoeira como uma amizade do passado, emendou:



“Apenas admiti, em pronunciamento aqui na tribuna, no dia 6 de março passado, que fui amigo de Carlinhos Cachoeira e conversava frequentemente por telefone, mas nunca tive negócios legais ou ilegais com ele. Eu não tenho nem sociedade nem nada a ver com os delitos investigados pelas operações Vegas e Monte Carlo.”



No texto aprovado por unanimidade no Conselho de Ética, o relator Humberto Costa (PT-PE) pespegou no agora ex-amigo de Cachoeira a pecha de “despachante de luxo” do contraventor. E Demóstenes: “Não coloquei o meu mandato a serviço de Cachoeira, mas tão somente à disposição das forças produtivas do meu Estado e do Brasil.”



Mais adiante, o senador acrescentou que jamais pediu recompensas aos que atendeu no Senado: “Nunca pedi nada de ilegal a nenhum deles nem a ninguém. Simplesmente atuai apenas em nome do desenvolvimento do meu Estado. Eu não percebi nem recebi vantagem indevida nem algo em troca de minhas ações no Senado.”



“Sou inocente”, disse Demóstenes a alturas tantas. Dessa vez, não foram ouvidas manifestações do plenário, que estava esvaziado. O orador teve o cuidado de avisar que não aceitaria apartes. Avisou também que retornará à tribuna nesta terça (2). Isolado, sem partido e sem infantaria, o ex-paladino da ética realiza um derradeiro esforço para tentar salvar o mandato.



Encerrada a sessão plenária, foi aberta há pouco uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Presidente do colegiado, o senador Eunício Oliveira confirmou para esta quarta-feira (4) a votação do pedido de cassação de Demóstenes. Será aprovado. Dali, seguirá para o plenário do Senado.

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