segunda-feira, abril 09, 2012

Trabalho inútil

Sísifo simboliza o trabalho inútil. Ele é a versão mitológica do enxugador de gelo. Ele representa todas as pessoas que, não sendo produtivas, estão sempre ocupadas.

Sísifo ajuda a entender porque organizações com excesso de funcionários são tão improdutivas. É trabalho que não gera valor, nem tem mérito.

Em novembro de 1955 foi publicado pela revista “The Economist” um artigo com o titulo “A lei de Parkinson”, escrito por C. Northcote Parkinson, professor da Universidade de Singapura.

O autor explicou que, no trabalho, o tempo disponível é fixo, mas o montante de trabalho (especialmente burocrático) é flexível. Assim, as pessoas vão sempre esticar ao máximo a quantidade de trabalho de maneira a fazer com que ela preencha todo o tempo disponível. Por isso, aumenta-se desnecessariamente a burocracia e complicam-se os procedimentos.

Segundo Parkinson, isto ocorreria por dois fatores. O primeiro é a lei de multiplicação de subordinados: cada chefe quer multiplicar o número de subordinados para aumentar seu poder em relação aos seus concorrentes. O segundo é a lei de multiplicação do trabalho: o aumento do número de funcionários de um departamento gera aumento no trabalho a ser feito por todos os departamentos que se relacionam com ele.

A relação entre recompensa e mérito se enfraquece. Cria-se um sistema perverso que não gera valor para a sociedade. As organizações passam a viver exclusivamente em função delas mesmas sem com isso servir eficientemente a qualquer função social ou econômica. O mérito perde o sentido. A busca e preservação de posições e poder é somente o que conta.

O império da lei de Parkinson traz a mesma frustração expressada por Rui Barbosa quando disse que ”de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto“.

A lei de Parkinson é o triunfo do corporativismo sobre o mérito. É a condenação da sociedade ao castigo de Sísifo.



Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Email: esimoes@uvic.ca.

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